Imprimir / PDF

“Between” é uma palavra da língua inglesa que significa “entre”. Escolhi esse título para o livro porque esse é um livro que explica as três fases da convivência. A vida não é uma experiência biológica, é uma experiência pedagógica. Você vive em grupo para aprender a viver em grupo (conviver). A convivência não é acidental, é uma escola. Esse livro foi escrito para te ajudar a sair do pré-primário da convivência e chegar na pós graduação. Boa leitura! E muitas eurekas!

A mitologia grega conta que o rei Midas encontrou o sátiro Sileno em seus jardins. Sileno estava embriagado e adormecido, tendo se perdido do cortejo de Dionísio.

Midas o tratou com hospitalidade por vários dias, oferecendo-lhe comida e bebida. Durante esse período, Midas, conhecido por sua curiosidade e busca por sabedoria, decidiu fazer a Sileno uma pergunta fundamental. Ele perguntou: “O que é melhor para os homens?”

Sileno, conhecido por sua sabedoria, inicialmente se recusou a responder. Mas, pressionado por Midas, deu a seguinte e enigmática resposta: “O melhor para os homens seria nunca ter nascido. Mas uma vez que nasceu, o melhor é morrer quanto antes”.

Moral da história: nascer é a mãe de todas as tragédias.

Por que o nascimento é uma tragédia?

Pense no antes e no depois. Antes do nascimento você é vivido, quando você nasce, você se torna responsável por sobreviver. E mais! No útero sua existência é absoluta, na convivência sua existência é uma entre infinitas. No útero sua consciência é absoluta, na convivência sua consciência é uma entre infinitas. No útero sua vontade é absoluta, na convivência sua vontade é uma entre infinitas.

Uma vez que você sai do útero e entra no jogo da convivência, sendo que sua vontade não é mais absoluta, algo novo acontece. A todo instante a realização da sua vontade é obstruída pela vontade dos outros. Sendo assim, para que você consiga realizar sua vontade no jogo da convivência, existem três, e apenas três estratégias que você pode executar. Sua opção entre uma desses três estratégia depende do seu nível de autoconhecimento.

Quando a vontade do outro impede a realização da sua, a estratégia mais rápida e eficiente para resolver isso, é aniquilar o outro (matar o outro). Quando o outro morre a vontade dele morre junto e deixa de impedir a realização da sua.

É isso que você faz com pernilongos, formigas e baratas, por exemplo. Você quer eles longe de você. Eles querem circular livremente. A vontade deles impede a realização da sua. Para realizar sua vontade, você pisa em cima deles, joga veneno, etc.

Vamos supor que você está viajando em um ônibus com 30 pessoas. Você quer ir para Salvador, mas cada pessoa quer ir para um lugar diferente de você. São 30 vontades impedindo a realização da sua. Como resolver isso rapidamente? Basta você matar as 30 pessoas. Pronto! Problema resolvido!

A estratégia da aniquilação, quando executada visando a sobrevivência, é conhecida como predação. É um comportamento natural e essencial em muitos ecossistemas, onde os predadores caçam e matam suas presas para obter energia e nutrientes.

O vídeo a seguir mostra um exemplo.

A raposa quer sobreviver. Para sobreviver, a raposa precisa comer o coelho. Mas o coelho também quer sobreviver. A vontade de sobreviver do coelho impede a realização da vontade de sobreviver da raposa. A raposa aniquila o coelho.

A predação é executado pelo homem também. Aliás, principalmente pelo homem, que industrializou a predação. Bois, galinhas, peixes e porcos que o digam!

A estratégia de aniquilação, quando executada por um ser humano ao outro, sem finalidade de alimentação, é conhecida como homicido ou assassinato. A seguir dou alguns exemplos de homicídio.

Esse vídeo é feito com trechos do filme “A menina que matou os pais”, que conta a história de Suzane Von Richthofen. Analisando o caso da perspectiva da realização da vontade, o que aconteceu? Suzane convivia bem com seus pais desde que nasceu. Na adolescência ela se apaixonou por um garoto. Seus pais julgaram que o garoto não era apropriado para ela e, através da autoridade paterna, proibiram o namoro. A vontade de Suzane era continuar namorando. A vontade dos pais era que o namoro acabasse. A vontade dos pais se tornaram um obstáculo para realização da vontade de Suzane. Para realizar sua vontade, Suzane executou a estratégia da aniquilação.

Esse vídeo é um trecho do filme “Gladiador”, que conta a história de Máximos, um gladiador Romano. Analisando o caso da perspectiva da realização da vontade, o que esse vídeo mostra? Máximos quer sobreviver. Para sobreviver, ele precisa matar o outro gladiador. Mas o outro gladiador também quer sobreviver. A vontade de sobreviver do outro gladiador impede a realização da vontade de Máximos. Máximos aniquila o outro gladiador.

A estratégia de aniquilação de um ser humano, quando executada pelo estado, devido à inflação de um crime, é conhecida como pena de morte. A seguir dou alguns exemplos de penas de morte.

Esse vídeo é um trecho do filme “A Última Tentação de Cristo”, que conta a história da crucificação de Jesus. Analisando o ocorrido da perspectiva da realização da vontade, o que esse vídeo mostra? Jesus quer salvar o mundo. O estado romano quer que o mundo continue do mesmo jeito. A vontade de Jesus impede a realização da vontade do estado romano. O estado romano aniquila Jesus.

Esse vídeo é um trecho da execução de Saddam Hussein. Analisando o ocorrido da perspectiva da realização da vontade, o que esse vídeo mostra? Saddam Hussein quer salvar o mundo dos americanos. O estado americano quer que o mundo continue do mesmo jeito. A vontade de Saddam Hussein impede a realização da vontade do estado americano. O estado americano aniquila Saddam Hussein.

A estratégia de aniquilação, quando executada por um grupo de seres humanos a outro grupo de seres humanos, sem finalidade de alimentação, é conhecida como extermínio ou genocídio. A seguir dou alguns exemplos de genocídio.

Esse vídeo é um trecho do filme “Napoleão”, que conta a história de Napoleão. Analisando o ocorrido da perspectiva da realização da vontade, o que esse vídeo mostra? A frança quer dominar o mundo. A Inglaterra não quer ser dominada pela frança. A vontade da França impede a realização da vontade da Inglaterra e vice-versa. Ambos entram em guerra para ver quem aniquila o outro e tem sua vontade realizada.

Esse vídeo é um trecho de um documentário sobre a Segunda Guerra Mundial. Analisando o ocorrido da perspectiva da realização da vontade, o que esse vídeo mostra? O Japão quer dominar o mundo. Os EUA não quer ser dominado pelo Japão. A vontade dos EUA impede a realização da vontade do Japão e vice-versa. Ambos entram em guerra para ver quem aniquila o outro e tem sua vontade realizada.

Esse vídeo é um trecho de um documentário sobre o holocausto. Analisando o ocorrido da perspectiva da realização da vontade, o que esse vídeo mostra? Os alemães querem ser a única raça existente no planeta. Os Judeus quer habitar o planeta também. A vontade dos Judeus impede a realização da vontade dos alemães. Os alemães aniquilam os judeus e tem sua vontade realizada.

Embora a estratégia da aniquilação seja rápida e eficiente, não é permanente. Sempre que você mata um, aparece outro. Você mata uma barata, aparece outra barata. Você mata um pernilongo, aparece outro pernilongo. Você mata um ser humano, aparece outro ser humano. Além disso, em uma convivência baseada na aniquilação, você pode matar o outro, mas o outro também pode matar você.

A solução para esse problema é usar outra estratégia de convivência: o controle. Na estratégia do controle você não precisa aniquilar o outro para que sua vontade prevaleça, basta você controlar a vontade do outro. A estratégia do controle se divide em duas sub-estratégias:

Outroísmo impositivo: controle pela punição e ameaça.
Outroísmo submisso: controle pelo suborno e mentira.

Essas duas formas de controle estão explicadas no livro Outroísmo Impositivo e no livro Outroísmo Submisso. Ambos estão disponíveis online e gratuitamente na página “livros” desse site. Basta clicar e ler.

Embora a estratégia do controle seja moderadamente eficiente, é trabalhosa, escravizante e sofrida. No outroísmo submisso, você passa o tempo todo mentindo e negando a si mesmo. Viver assim é trabalhoso, escravizante e sofrido. No outroísmo impositivo, você passa o tempo todo vigiando e punindo o outro. Viver assim é trabalhoso, escravizante e sofrido.

A solução para esse problema é usar outra estratégia de convivência: a cooperação. Na estratégia da cooperação você não precisa controlar o outro para que sua vontade se realize, basta você entrar em acordo com o outro.

A estratégia da cooperação não está explicada em nenhum livro da 1ficina, porque isso é “between” você e o outro. O que pode ser dito de forma geral, é o seguinte:

1) É impossível convivência cooperativa mediante imposição, apenas mediante opção.

2) Sem a conscientização de bem viver não é vida boa e que nem a estratégia da aniquilação e nem a estratégia do controle conseguem produzir bem viver, é impossível que você abandone essas duas estratégias e opte pela convivência cooperativa.

3) Uma convivência onde só um dos lados coopera não é uma convivência cooperativa, mas ainda assim é uma convivência melhor do que a convivência baseada na aniquilação e no controle.

4) A melhor maneira de você convencer um ser humano a mudar de uma convivência baseada na aniquilação e no controle para uma convivência cooperativa, é dando o exemplo.

Todo homem morre um pouco
Quando mata
Todo homem morre um pouco
Todo homem morre um pouco
Quando mata
Se não morre, fica louco

Todo homem morre um pouco
Quando mente
Todo homem morre um pouco
Todo homem morre um pouco
Quando mente
Se não morre, fica louco

E mata pela prata
Igual pirata
E mata pelo pão
Vida de cão
E jura e cruza os dedos
Mente por medo
Quando diz o que não sente
O homem mente

E mata pela prata
Igual pirata
E mata pelo pão
Vida de cão
E jura e cruza os dedos
Mente por medo
Quando diz o que não sente
O homem mente

© 2023 • 1FICINA • Marcelo Ferrari