Cidade não tem noite, sois eletrônicos acendem com o timer e o espetáculo da escuridão, mesmo presente, fica invisível. Sempre morei na cidade. Aliás, quase sempre. Suficiente para que minhas retinas se esquecessem que são duas luas. Certa vez, arranquei a avenida paulista de dentro de mim e fui morar em um sítio. Lá, quando ficava noite, ficava noite, e tanto, que no quarto onde dormia não fazia diferença estar de olhos abertos ou fechados. Muitas vezes, acordava antes do sol, da memória, e até de mim mesmo, para ficar olhando o breu. Impressionante como o quarto encarnava no espaço com a luz do dia. Surgia a porta bege, a janela de ferro e o armário Marabraz. Quanto mais luz, maior era meu estado catatônico.
— Altura!!!! Largura!!!! Profundidade!!!! De onde vem isso? Não estavam aqui! Tenho certeza! Será que foi o sol que trouxe? — pensava.
De repente, o galo cantava. E eu já não era o único bicho no mundo querendo acordar o mundo para o absurdo que o mundo é.