Cidade não tem noite, sois eletrônicos acendem com o timer e o espetáculo da escuridão, mesmo presente, fica invisível. Sempre morei na cidade. Quase sempre. Tempo suficiente para que minhas retinas se esquecessem que são duas luas. Certa vez, enjoado da Avenida Paulista, fui morar em um sítio. Lá, quando ficava noite, ficava noite. E tanto, que no quarto onde dormia, não fazia diferença estar de olhos abertos ou fechados. Muitas vezes, acordava antes do sol, da memória e até de mim mesmo para ficar olhando o breu. Impressionante como o quarto encarnava no espaço com a luz do dia. Surgia a porta bege, a janela de ferro e o armário Marabraz. Quanto mais luz, maior era meu estado catatônico. — Altura! Largura! Profundidade! De onde vem isso? Não estavam aqui! Tenho certeza! Será que foi o sol que trouxe? — pensava. De repente, o galo cantava. E eu já não era o único bicho no mundo querendo acordar o mundo para o absurdo que o mundo é.