No dia 07 de dezembro de 2024 aconteceu o primeiro encontro nacional dos 1ficineiros. Para celebrar essa data, produzi uma palestra inédita intitulada: 3 Verdades. Esse livro é a reprodução dessa palestra.
Sei que o tema da verdade é polêmico e gera muita discordância. O objetivo desse livro é explicar que a polêmica e a discordância vem da confusão entre três naturezas distintas da experiência humana.
Esse é um livro avançado. Em alguns momentos vou pular conceitos explicados em outros livros. Para melhor compreensão, leia todos os livros da 1ficina.
Verdade é cognoscível. Cognoscível significa conhecido. Essa é a primeira obviedade sobre a verdade. Qualquer coisa que seja incognoscível não pode ser afirmada ou negada. Qualquer coisa que seja incognoscível não pode ser verdade ou mentira. E atenção! Não estou dizendo que o incognoscível não existe. Estou dizendo que o incognoscível não pode ser afirmado nem negado, não pode ser verdade nem mentira, pois é incognoscível.
Realidade é tudo que você experimenta. Essa é a definição empírica e autocientífica de realidade. E quando digo tudo, é tudo. Tudo sem exceção. Tudo do verbo tudo mesmo. E sendo que tudo que você experimenta é o cognoscivo: verdade é realidade. Essa é a segunda obviedade sobre a verdade.
Verdade é realidade.
Realidade é multimídia.
Logo, verdade é multimídia.
Essa é a terceira obviedade sobre a verdade.
Se você desconhece a explicação sobre a natureza multimídia da realidade, sugiro ler o livro Realidade Multimidia. É muito importante estar consciente sobre a natureza multimídia da realidade para entender a natureza multimídia da verdade.
Que número é esse? Seis ou nove?
Olhando do ponto de vista do pé peludo, é seis. Olhando do ponto de vista do pé calçado, é nove. Então, qual é a verdade? É seis ou nove? A resposta é ambas.
Verdade é o cognoscível. O cognoscível é o objeto observado (objeto de conhecimento). O observado depende do observador. Não existe conhecimento sem conhecedor. Para o observador de pés peludos, o observado é seis. Para o observador de pés calçados, o observado é nove. Seis e nove são igualmente verdade, porque verdade é relativa.
Verdade é relativa ao observador. Eis a quarta obviedade sobre a verdade.
Para que dois observadores tivessem a mesma verdade, seria preciso que ambos fossem o mesmo observador. Mas se dois observadores fossem o mesmo observador, não seriam dois observadores, seriam um.
“Isso é um problemaço! O universo é feito de infinitos observadores, cada um observando do seu próprio ponto de vista! São infinitas verdades! Qual é a verdade, afinal? Não pode ser tudo verdade!”, você pensa.
Por que não? Por que só seu ponto de vista humano e pessoal tem que ser a única forma de observação? E mais! Por que sua verdade tem que prevalecer? Por que a verdade do outro precisa ser excluída? Por que precisa ser seis OU nove? Por que não pode ser seis E nove?
Você vive num mundinho
Do tamanho
Da cabeça de um alfinete
Quer ser o verbete
Quer ser a batuta
Da verdade absoluta
Eu sei você é o cara
Você é foda
Inventou o chiclete e a roda
E nunca se cansa
Está sempre na luta
Da verdade absoluta
Você sabe quanta tinta e pincel
É preciso
Para pintar o céu
Porque
Água mole em pedra dura
Tanto bate
Até que fura
Meu amigo
Baixe essa bola
Eu sei
Você é nota dez na escola
Mas pra que
Tanta vaidade
Se da missa
Você não sabe
A metade
Mesmo que eu corrija
Todas as escrituras
Retire as montanhas
Pinte as rachaduras
Mesmo que construa
Um milhão de pontes
Dois milhões de escadas
Três milhões de horizontes
Mesmo que for tipo B
Sangue compatível
Jamais você irá saber
É impossível
Ver com os meus olhos
Pegar com minhas mãos
Pensar com minha cabeça
Sentir com meu coração
Mesmo que eu responda
Às suas questões
Salve a Cinderela
E os Sete Anões
Mesmo que te ensine
Tim tim por tim tim
Transforme água em vinho
Comece pelo fim
Mesmo que for tipo B
Sangue compatível
Jamais você irá saber
É impossível
Ver com os meus olhos
Pegar com minhas mãos
Pensar com minha cabeça
Sentir com meu coração
Se essa linha
Se desfizesse
Por um segundo
E você pudesse
Ver com os meus olhos
Pegar com minhas mãos
Pensar com minha cabeça
Sentir com meu coração
Na ilustração acima temos a verdade objetiva, com existência própria (independente da observação) e temos duas verdades subjetivas (relativas a cada observação).
Essa é a lógica científica da verdade. Para a ciência humana, a verdade existe independente da observação. Essa lógica pode ser melhor compreendida através da ilustração abaixo:
A ilustração acima expressa a mesma lógica da ilustração “seis e nove”, apenas mudando o objeto observado. O cilindro de madeira representa a verdade objetiva, com existência própria (independente da observação) e as duas sombras representam duas verdades subjetivas (relativas a cada observação).
A ilustração acima também expressa a mesma lógica das ilustrações anteriores, apenas mudando as palavras. O cilindro de madeira representa o objeto real, com existência própria (independente de observação) e as duas sombras representam duas verdades subjetivas (objetos mentais, relativos a cada observação).
Tudo lindo. Tudo maravilhoso. Tudo amplamente aceito pela comunidade científica. Tudo ensinado nas escolas e universidades do mundo inteiro. Tudo muito tudo. Porém….
Tem um erro fundamental na lógica científica. Um erro crasso! Um erro ululante! Um erro mais que difícil de engolir. Um erro impossível de engolir por ser o fundamento do materialismo e tudo que deriva dele. E tudo deriva dele. Tudo na sociedade humana está alicerçado na lógica materialista. Cai o materialismo, cai tudo!
Que erro é esse? O que está errado nessa ilustração?
Ele tem RG e brevê
É doutor e PHD
Anel de bacharel e você
Ainda quer discutir com o cara
Fique você sabendo, ninguém
Sobre tudo, contudo e porém
Tem conhecimentos além
Pra poder discutir com o cara
Mas se arrancarem o pingo do “i”
Quebra as pernas e vira saci
Já não sabe o valor de pi
Não sabe onde põe a cara
Se arrancarem o pingo do “i”
Quebra as pernas e vira saci
Já não sabe o valor de pi
Não sabe onde põe a cara
Pois quem sabe já não pensa
E quem pensa já não sabe
E só quem sabe a diferença
Só quem sabe, sabe
Ele pensa que sabe!
Tem um famoso experimento mental onde o filósofo George Berkeley pergunta: “Se uma árvore cai na floresta e ninguém está perto para ouvir, ela fez barulho?”. A resposta da ciência é sim, pois tanto a árvore como o som da queda são verdades objetivas.
Mas não é apenas isso que a ciência afirma quando responde sim ao experimento de Berkley. A ciência está fazendo muitas outras afirmações. Por exemplo, está afirmando que a realidade objetiva existe independente da observação, ou seja, que o observado existe independente da observação. Eis o erro da lógica científica (materialista).
Verdade é o cognoscível. O cognoscível é produto da observação. Logo, verdade é produto da observação. Sem observação não existe observado. Sem observação não existe verdade. Sem observação não existe realidade. Sem observação não existe objeto.
As ilustrações abaixo mostram graficamente qual é o erro da lógica científica:
Não existe objeto externo. Não tem nada do lado de fora. Não existe sequer lado de fora. Nem lado de dentro. “Dentro e fora” são conceitos geométricos derivados da lógica científica (materialista). Só estou usando o conceito de externo nessa explicação porque você, leitor, pensa com lógica científica (materialista).
O objeto externo que a lógica científica SUPÕE existir externamente (independente de observação), é exatamente isso: suposição. O erro da lógica científica é um erro de pressuposição. A lógica científica é platônica. Funciona assim: “Se estou vendo a sombra de um objeto (objeto mental), logo, existe um objeto real causador da sombra”. Essa é a suposição da lógica científica. Mas novamente, é uma suposição, não é um fato.
A primeira dificuldade de sair desse erro de pressuposição, é que não tem como provar que o objeto externo não existe externamente através da lógica científica, porque é justamente a lógica científica que o cria através da pressuposição.
A segunda dificuldade de sair desse erro de pressuposição, é que não tem como provar que o objeto externo não existe externamente através da observação. O porquê disso é a 5ª obviedade sobre a verdade. Explico no próximo capítulo.
O motivo pelo qual é impossível provar através da observação que o objeto externo não existe externamente, é porque não existe observação.
Sei que essa afirmação é de cair o cu da bunda. Sei que vai contra tudo que você acredita. Sei que parece irracional, absurda e coisa de maluco. Sei disso tudo porque já estive onde você está: preso na lógica científica (materialista). Contudo, o fato é que não existe observação.
Se você se der ao trabalho de investigar o que é isso que você chama de “observação”, você irá descobrir que isso que você chama de “observação” não existe, é um equívoco. Observação também é uma pressuposição científica. E é uma pressuposição equivocada.
Para sair do equívoco da observação, é simples, basta usar o método científico da observação tendo por objeto de estudo a própria observação. Ou seja, basta observar a observação. Não é preciso microscópio. Não é preciso acelerador de partículas. Não é preciso nenhuma tecnologia. Basta ser humano e decidir fazer isso.
“E por que ninguém faz?”, você pensa. Ninguém faz porque ninguém faz. Parece piada, mas é simples assim. Se seus antecessores fizessem, você faria. Como eles não fizeram, você nem sequer imagina a possibilidade de fazer.
Eu fiz e descobri o que qualquer ser humano pode descobrir se fizer também. O que estou explicando nesse livro é um exemplo disso. Porém, mesmo lhe dizendo o que fazer e como fazer, você também não irá fazer, por pura preguiça. Você irá apenas: (a) acreditar na minha explicação, ou (b) rejeitar minha explicação.
O resultado desses dois comportamentos é a perpetuação do ciclo “ninguém faz porque ninguém faz”. Isso é péssimo para o avanço do autoconhecimento, mas é o que tem para hoje.
Por fim, o que você descobre quando se dá ao trabalho de observar a observação? Você descobre a quinta obviedade sobre a verdade. Explico no próximo capítulo.
O motivo pelo qual não existe observação, é porque o observado (objeto) não é uma entidade separada da observação, mas justamente o contrário, é imanente a observação.
Observação é um conceito materialista baseado na pressuposição de objeto externo (independente de observação). Se de fato existisse objeto externo, então, sim, existiria observação. Só que não existe objeto externo de fato, é apenas uma pressuposição, e é uma pressuposição equivocada.
Assim como não existe separação entre a imagem na tela da televisão e a tela da televisão, o que existe é imanência, também não existe separação entre observado e observação, também o que existe é imanência.
Observado e observação são dois aspectos da mesma entidade: voser (você-ser). Observado é voser se observando através de uma interface humana.
Olhe para um objeto. Qualquer objeto. Qual é a distância entre sua observação do objeto e o objeto? Absolutamente nenhuma! Zero! A ideia de distância e separação entre você e o objeto observado só surge quando você visualiza seu corpo e o espaço entre seu corpo e o objeto observado. Mas ao fazer isso, você esquece que seu corpo também é um objeto sendo observado, não é a observação.
A visão é o sentido que mais mantém você preso a mentalidade científica (materialista). Para evitar isso, faça um experimento análogo usando o tato ao invés da visão. Feche os olhos e segure um objeto. Enquanto estiver segurando, se pergunte: qual é a linha que separa o tato do objeto?
A resposta é: nenhuma! Isso porque o objeto que você está segurando não é um objeto externo feito de matéria, é um objeto mental feito de tato. A experiência de tato, de dureza, somada ao hábito da lógica científica, faz você supor um objeto. Mas se o tato fosse desligado, o objeto desapareceria da sua mão. E mais! Sua mão desapareceria também.
Observação é auto-observação. Eis a quinta obviedade sobre a verdade. Eis a verdade impossível de engolir. Os seres humanos, principalmente os cientistas, acreditam que, através de seus microscópios e lunetas, estão observando o que existe do lado de fora. Não estão. Nunca estiveram. Jamais estarão.
Observação é auto-observação. O que você e todos os seres humanos observam e dão nomes como cadeira, pedra, parede, estrela, célula, luz, flor, dedão, som, cabelo, panela, asteroide, banana, elefante, etc, é uma das três mídias da verdade ACONTECENDO “dentro” de cada um, é a verdade objetiva.
Como disse no início desse livro, a verdade é multimídia. Tudo que expliquei até aqui foi para lhe ajudar a ficar consciente sobre a mídia da verdade objetiva. Espero que tenha conseguido. Caso não tenha, tem vários outros livros da 1ficina que explicam o equívoco do materialismo até mais detalhadamente do que esse.
Vou seguir agora para o entendimento das outras duas mídias da verdade. Porém, antes disso, é fundamental que você entenda porque não consegue se libertar da lógica científica (materialista) e porque todos os seres humanos acreditam e concordam que existe objeto externo.
Toda mágica funciona baseada em suposições equivocadas. No famoso truque do coelho na cartola, por exemplo, primeiro o mágico lhe mostra uma cartola vazia. Você vê a cartola vazia. Então, quando o mágico coloca a cartola sobre a mesa, você supõe que a cartola continua vazia. Ela não está mais vazia. O mágico, muito habilidoso, já colocou um coelho na cartola sem você perceber. Quando o mágico retira o coelho da cartola, como você supõe que a cartola está vazia, fica parecendo mágica.
Também é uma suposição equivocada que faz você acreditar que existe objeto externo. Se sua verdade objetiva fosse tal como na ilustração abaixo, onde o objeto A é diferente do objeto B, seria fácil entender que não existe objeto externo. Você conversaria com as pessoas, ouviria descrições diferentes dos objetos e concluiria que a verdade objetiva é particular e mental. Porém, o que acontece é o oposto. O que acontece é o que está na segunda ilustração.
Quando você conversa sobre os objetos, não há divergência, há concordância. Onde você enxerga uma bola, todos enxergam uma bola. Onde você não consegue atravessar porque tem uma parede, ninguém consegue atravessar porque tem uma parede. Sendo que você é um ser humano que pensa e acredita, imediatamente você supõe que exista uma bola e uma parede do lado de fora, tal como na ilustração abaixo:
Essa mesma mágica acontece quando você joga videogame em rede.
Você está na sua casa, olhando para tela do seu computador. Todos os outros jogadores estão em outros lugares do mundo, olhando para tela de outros computadores. Todos estão vendo o carro. E todos precisam ver o carro, senão fica impossível jogar o jogo. Porém, ninguém comete o equívoco de acreditar que existe um carro lá fora, além do monitor do computador. Por que não? Porque todos sabem como o videogame funciona. E por que o ser humano não faz o mesmo com a verdade objetiva? Exatamente pelo motivo oposto. Porque o ser humano ignora o que é ser humano, não tem autoconhecimento.
Verdade é o cognoscível. O cognoscível é multimídia. Verdade é multimídia. Uma das mídias da verdade é a verdade objetiva. Verdade objetiva é sua percepção sensorial, ou seja, a realidade criada pelos sentidos. Sua visão do Elvis Presley, por exemplo.
Sendo que a verdade é multimídia, a mentira, que é a negação da verdade, também é multimídia. A negação da sua verdade objetiva é a mentira objetiva. Por exemplo, quando você está vendo o Elvis Presley, mas diz que está vendo a Madona, você está executando uma mentira objetiva.
A visão de uma panela com gordura é outro exemplo de verdade objetiva. Quando você está vendo uma panela com gordura, mas diz que está vendo um carro, você está executando uma mentira objetiva, pois está negando sua visão.
Verdade é o cognoscível. O cognoscível é multimídia. Verdade é multimídia. Outra mídia da verdade é a verdade simulada. Verdade simulada é sua imaginação, ou seja, a realidade criada pela imaginação. Sua imaginação do Elvis Presley, por exemplo.
Sendo que a verdade é multimídia, a mentira, que é a negação da verdade, também é multimídia. A negação da sua verdade simulada é a mentira simulada. Por exemplo, quando você está pensando no Elvis Presley, mas diz que está pensando na Madona, você está executando uma mentira simulada.
A imaginação de uma panela com gordura é outro exemplo de verdade simulada. Quando você está imaginando uma panela com gordura, mas diz que está imaginando um carro, você está executando uma mentira simulada, pois está negando sua imaginação.
Verdade é o cognoscível. O cognoscível é multimídia. Verdade é multimídia. Outra mídia da verdade é a verdade significativa. Verdade significativa é sua crença, ou seja, a realidade criada pela sua adjetivação. Por exemplo, sua adjetivação do Elvis Presley: “Elvis Presley é lindo”.
Sendo que a verdade é multimídia, a mentira, que é a negação da verdade, também é multimídia. A negação da sua verdade significativa é a mentira significativa. Por exemplo, quando você acredita que “Elvis Presley é lindo”, mas diz que “Elvis Presley é feio”, você está executando uma mentira significativa.
A crença de que a panela está suja é outro exemplo de verdade significativa. Quando você acredita que uma panela está suja, mas diz que está limpa, você está executando uma mentira significativa, pois está negando sua crença.
A 1ficina é uma escola autocientífica. Autociência não é ciência da verdade, é ciência do óbvio. Mas qual é a diferença entre óbvio e verdade? Para entender isso, o melhor caminho é pensar de trás para frente, através de uma pergunta similar: qual é a diferença entre e equívoco e mentira?
Verdade é o cognoscível. Mentira é a negação da verdade, ou seja, a negação do cognoscível. Mas equívoco? O que é? Equívoco é sinônimo de mentira? Sua tendência é responder que não. E se você responder “não” você estará correto em sua resposta. Mas para que a questão se esclareça, não basta você responder “não”. Você precisa responder: por que não?
Vamos usar um exemplo prático para deixar óbvio a diferença entre mentira e equívoco.
Olhe para a parede à sua frente. Qual é a cor dessa parede? Vamos supor que seja verde. Verdade é o cognoscível. Então, a verdadeira cor da parede é verde.
Daí, eu te pergunto: “Qual é a cor da parede?”. Se você me responde: “A parede é vermelha”. Você está mentindo. E por quê? Porque você sabe que a parede é verde. Você sabe porque está olhando para parede e vendo a cor verde.
Imagine que tem uma pessoa cega do seu lado e eu pergunte para ela a mesma pergunta: “Qual é a cor da parede?”. A pessoa cega responde: “A parede é vermelha”. A pessoa cega está mentindo? Não! E por que não?
Mentira é a negação da verdade. Verdade é o cognoscível. Então, para que você possa mentir, primeiro você precisa estar consciente da verdade (saber a verdade) para depois executar o processo de negação.
A pessoa cega é incapaz de executar a primeira etapa porque é incapaz de enxergar (ficar consciente da verdadeira cor da parede). Logo, é incapaz de mentir.
E o que a pessoa cega está fazendo quando diz que a parede é vermelha? A pessoa cega está acreditando no que você disse. Ela não está mentindo. Ela está equivocada. Quem está mentindo é você, porque você sabe que a parede é verde.
A pessoa cega não é mentirosa, é ignorante.
Entendido isso, fica fácil entender a diferença entre equívoco e mentira.
— Mentira é NEGAÇÃO da verdade.
— Equívoco é IGNORÂNCIA da verdade.
O equívoco é sincero. A negação é manipuladora.
A pessoa cega afirma que a parede é vermelha porque sinceramente acredita no que você disse. Ela não está mentindo, está equivocada. Você diz que a parede é vermelha para negar a verdade. Você sabe que a parede é verde, mas mente como forma de manipulação.
A mentira é uma prática de controle IMPOSSÍVEL de ser praticada entre ignorantes. Claro que cada cego pode acreditar em uma mentira diferente e tentar convencer os outros de que a parede é dessa ou daquela cor. Só que nenhum estará mentindo. Pois nenhum é capaz de enxergar (saber) a verdadeira cor da parede.
Entendido isso, fica fácil entender a diferença entre óbvio e verdade.
— Óbvio é conhecer.
— Verdade é o conhecido.
Em outras palavras:
— Óbvio é saber.
— Verdade é o sabido.
Usando o exemplo da cor da parede:
— Óbvio é ver.
— Verdade é verde.
E voltando a definição fundamental:
— Óbvio é cognição.
— Verdade é o cognoscível.
Óbvio é conhecer o conhecido. Óbvio é saber do sabido. Óbvio é cognição do cognoscível. Óbvio é consciência consciente. Obvio não é verdade. Óbvio é saber a verdade e, consequentemente, a negação da verdade (mentira).
Eis a sexta obviedade sobre a verdade.
Chegamos então a pergunta que não quer calar, causa de todos os conflitos, guerras e tretas humanas: a panela está suja ou limpa? Qual é a verdade? O vídeo abaixo mostra um exemplo dessa briga. Um dos garotos dá o significado de boi e o outro de vaca. Ambos se acham donos da verdade. Veja o que acontece:
É vaca OU é boi? Qual é a verdade? A verdade é vaca E boi. A verdade significativa depende do sistema de crenças de cada um. Um garoto foi ensinado que bicho com chifre é vaca, o outro garoto foi ensinado que bicho com chifre é boi. São duas verdades significativas diferentes.
A panela está suja OU limpa? Qual é a verdade? A verdade é suja E limpa. A verdade significativa depende do sistema de crenças de cada um. Você acredita que panela com gordura é suja, o outro acredita que panela com gordura é limpa. São duas verdades significativas diferentes.
Já usei a imagem de equilibrar pratos em varetas para explicar a relação entre o estresse e as obrigações. Mas essa imagem também serve perfeitamente para explicar o funcionamento da mentira. Pratos não flutuam no ar. Para um prato permanecer flutuando no ar, ele precisa de apoio. A vareta é o apoio. O mesmo acontece com a mentira. Também não flutua no ar, não se mantém por si, também precisa de apoio.
E qual é o apoio da mentira?
Fico com vontade de parar o texto por aqui, porque é muito importante que você encontre a resposta de forma autônoma, sem o apoio do professor. Mas não vou fazer isso. Recomendo que você mesmo faça. Seja corajoso. Confie em si. Pare de ler esse texto e só volte para ler o resto depois que encontrar a resposta em si e por si.
Espero que tenha aceitado meu conselho. Independente disso, vou prosseguir.
Sendo que a mentira não se mantém por si, qual é o apoio que mantém a existência da mentira? O apoio da mentira é sua decisão em continuar sustentando a mentira. Em outras palavras, o apoio da mentira é o arbítrio. Não tem como um prato se manter flutuando no ar sem o apoio da vareta. Não tem como o falso (mentira) se manter no lugar da verdade, sem sua decisão, sem seu arbítrio.
Pense em uma mentira sua. Como ela se mantém? Através da sua opção em continuar mentindo. Se você decidir parar de mentir, o que irá acontecer? Sua mentira irá cair e se espatifar no chão, feito um prato.
“Mas é impossível viver em um mundo sem mentiras. Imagina se eu falar tudo que penso e sinto para os meus familiares e amigos e vice-versa. Será o fim da família e não irá sobrar nenhum amigo!”, você pensa em defesa da mentira.
E você está no seu direito. Mentir é seu grande privilégio humano. Só o ser humano tem a possibilidade de falsear a verdade (mentir). Sua defesa da mentira é a defesa desse privilégio. Porém, se passar a vida equilibrando pratos é estressante, muito pior é passar a vida sustentando mentiras.
Vá até um hospital e olhe para as pessoas adoentadas, com câncer, com gastrite, com úlcera, com hernia, com diabete, com infarte, com derrame mental, etc. Como você acha que essas pessoas foram parar lá? Deixando a verdade fluir ou se desgastando dia e noite para ocultá-la?
Todo mundo mente porque todo mundo mente. Somos sustentadores da mentira. Essa é a verdade. Esse é o acordo tácito sobre o qual nossa convivência está alicerçada. Sonhamos com o dia em que não mais precisaremos viver sustentando mentiras, mas não temos coragem de dar o primeiro passo. Ninguém tem. Então, segue em pé, firme e forte, o que todos gostariam de ver ruir.
Quer viver bem? Dê o primeiro passo: pare de sustentar suas mentiras. Quer colaborar para melhorar a convivência humana e a diminuição do número de doentes no hospital? Dê o segundo passo: pare de apoiar as mentiras alheias e coletivas. Nenhuma mentira pode se sustentar sem seu arbítrio.
Quando você desperta a consciência para a natureza multimídia da verdade, você entende como é tola, desnecessária, nociva e improdutiva a briga pela verdade. É o fim da briga. Mas para despertar a consciência, não basta você ler e reler o que está explicado nesse livro. Ler e reler ajuda. Mas o principal livro que você deve ler e reler é você mesmo: o ser humano que você é. Use o que está explicado aqui como ajuda na prática da autociência. Só a prática da autociência pode retirar você do estado de ignorância e te levar até a verdade sobre a verdade. Boa prática!