Acha que viver acreditando em mentiras é ruim? Acha que não tem como ficar pior? Tem sim! Afinal, que graça tem jogar um jogo sem desafio? Sempre dá para ficar pior. Tão logo você deixa de ser cientista empírico e vira crente, você é matriculado em um curso intensivo de preparação para viver bem chamado: educação moral e cívica. Nesse curso você tem basicamente duas matérias: não pode e tem que. Seus professores chamam o trabalho deles de educação, mas de fato é um adestramento.
Você coloca uma pedra na boca e…
Não pode! É caca!
Você mija gostoso nas calças e…
Não pode! Tem que mijar no penico.
Você quer comer bolacha e…
Não pode! Tem que comer salada.
Você isso e…
Não pode! Tem que aquilo!
Você aquilo e…
Não pode! Tem que esquilo.
Você esquilo e…
Não pode! Tem que crocodilo!
E tem que dormir tal hora.
Tem que acordar tal hora.
Tem que ir pra escola.
Tem que amarrar os sapatos.
Tem que fazer a lição.
Tem que ter uma profissão.
Tem que ficar rico.
Tem que ser uma pessoa de sucesso.
Não pode ser gay.
Não pode ficar solteira.
Tem que casar.
Tem que ficar grávida.
Tem que ter uma família.
Tem que se aposentar.
Você vai morrer,
é inevitável, mas…
não pode morrer.
O curso de educação moral e cívica dura toda a infância e juventude. Começa com seus pais e continua na escola. Durante esse período seus educadores lhe repassam todo o adestramento que receberam dos antecessores. A intenção deles é que você aprenda a viver bem. Por isso, para garantir a aprendizagem, seus professores usam instrumentos pedagógicos como chinelos, tamancos, cintas, pau de macarrão, alicates, facas, martelos, etc. Só que seus professores cometem dois equívocos:
1) Seus professores ignoram que cada jogador é UM jogador, que tem vontade própria e individualidade, ou seja, natureza existencial singular, diferente do outro. Então, ignoram também que a moral que funciona para um, não funciona para o outro.
2) Seus professores ignoram que “não pode” é diferente de “não deve”. E também ignoram que, para você, “não pode” é sinônimo de impossível e não de inapropriado.
Esses dois equívocos, colocados em prática por seus professores, com profundo amor e dedicação pelo seu bem viver, ampliam astronomicamente suas dificuldades em jogar bem o egogame (viver bem). O primeiro equívoco leva você à prática da autonegação e uniformidade (ser igual aos outros). O segundo equívoco faz você acreditar que leis morais são leis naturais do egogame, logo, que você é obrigado a segui-las.