As portas do salão se abrem pela primeira vez. Surgem três bailarinos vestidos de Reis Magos. A banda volta a tocar e os bailarinos começam a dar saltos e piruetas feito palhaços de circo. Um deles pega as pétalas de rosa que estão em volta do altar, junta feito confete e joga para cima. Um pétala branca cai bem na palma da minha mão. Começo a acaricia-la sentindo sua suavidade. Fico muito contente por ter recebido tão delicado presente dos Reis Magos. Meu semblante é só alegria e gratidão. Guardo a pétala no bolso.
A banda começa a tocar o Calix Bento. Pego duas moedas que levei comigo e dou uma para Gabi. Nosso guia havia avisado sobre este momento, mas Gabi não tinha troco, nem bolso, então, me pediu um empréstimo. Aponto para bandeira. Gabi entende. Me lembro dos violeiros de Santo Reis invadindo o sitio da minha avó em busca de prendas. Ela dava queijo, galinhas, ovos. Ele tocavam a tarde inteira e depois seguiam pela estrada comendo o queijo fresco. A bandeira se aproxima. Eu e Gabi jogamos nossas moedas dentro do bolsão.
A musica pára e o coordenador fala sobre o dia de reis. Depois ele pergunta se alguém quer falar. Eu tenho um livro inteiro para falar, mas não sei se é o caso nem o momento.
— Pode falar — me diz o pensamento — É o momento!
— Eu gostaria de compartilhar um pouco do que estou sentindo — digo.
— Fique a vontade — diz o coordenador.
— Meu coração está sereno, mas minha cabeça parece uma pastilha de cebion dentro dágua. Eu sou escritor e não é por acaso que estou aqui hoje. Esta semana comecei a escrever um livro que se chama “Queime Seus Navios” e gostaria de compartilhar o simbolismo deste título. Posso?
— Se não for muito logo — diz o coordenador.
— É bem rápido — respondo.
— Então, prossiga! — diz o coordenador.
— Dizem que Alexandre Magno tinha uma estratégia infalível para vencer suas batalhas. Primeiro ele aportava com seus navios em alguma praia do país que desejava conquistar. Depois, descarregava os navios. Retirava os mantimentos, as armas, os medicamentos, os animais, tudo. Por fim, ordenava aos soldados que colocassem fogo nos navios. Então, de costas para o oceano e para os navios em chamas, Alexandre Magno apontava para frente e dizia aos soldados: “Agora só tem um caminho que pode nos levar de volta para casa, marchemos!”
Faço um movimento apontando para dentro da cabeça, para mente, e digo: