Quando você desconsidera o Quatrix do outro, o que você está fazendo com o outro?
INTERLOCUTOR: Violentando o outro.
Nessa pergunta, não me refiro ao seu comportamento, mas sim ao seu estado mental. Quando você desconsidera o quatrix do outro, o que você está fazendo com o outro dentro da sua cabeça?
INTERLOCUTOR: Supondo que o outro é igual a mim.
Também. Mas é outro aspecto que quero deixar explícito.
INTERLOCUTOR: Desconsiderando a unicidade do outro.
Também. O que quero apontar é que você está coisificando o outro. Na mentalidade outroísta impositiva, você não vê o outro como um indivíduo, vê como uma coisa, um objeto. Por isso você chuta o outro como se fosse bola e lhe dá ordens como se fosse robô. Coisas não têm vontade própria, você é a vontade das coisas. Só que indivíduos tem vontade própria. E indivíduos não são coisas. Esse é o equívoco.
Só que esse é um equívoco construído na infância, então, é muito arraigado.
Vamos entender melhor isso.
Assim que você nasceu você sentiu fome. O que você fez?
INTERLOCUTOR: Eu chorei.
E o que aconteceu?
INTERLOCUTOR: Minha mãe me deu comida.
Sua mãe te deu leite no peito, ou então, lhe trouxe fruta, manga, por exemplo. Ok?
INTERLOCUTOR: Ok.
Você perguntou para manga se ela queria ser comida?
INTERLOCUTOR: Não.
Você perguntou para o leite se ele queria ser bebido?
INTERLOCUTOR: Não.
Você perguntou para sua mãe se ela queria ter o peito sugado?
INTERLOCUTOR: Não.
Por que não? O que era sua mãe, a manga e o leite para você?
INTERLOCUTOR: Eram coisas.
E o que você fez com essas coisas?
INTERLOCUTOR: Eu usei.
Usou para quê?
INTERLOCUTOR: Para satisfazer minha fome.
Sendo assim, para que servem as coisas?
INTERLOCUTOR: Coisas servem para me satisfazer.
Eis a mentalidade outroísta impositiva: o outro é uma coisa que serve para me satisfazer.
Ninguém te ensina a viver de forma outroísta impositiva, você aprende com a fome. Se você não comer a manga, se não beber o leite, você morre de fome.
INTERLOCUTOR: Ou aprendo ou morro!
Exato! Quando você era neném e sentia fome, você olhava para sua mãe e perguntava assim: “Querida mamãe, estaria você disposta a colaborar com minha alimentação e colocar seu peito na minha boca?”. Era assim sua interação com sua mãe?