Coisificação

11/11/2022 by in category Capitulos, Outroísmo impositivo with 0 and 0

Quando você desconsidera o Quatrix do outro, o que você está fazendo com o outro?

INTERLOCUTOR: Violentando o outro.

Nessa pergunta, não me refiro ao seu comportamento, mas sim ao seu estado mental. Quando você desconsidera o quatrix do outro, o que você está fazendo com o outro dentro da sua cabeça?

INTERLOCUTOR: Supondo que o outro é igual a mim.

Também. Mas é outro aspecto que quero deixar explícito.

INTERLOCUTOR: Desconsiderando a unicidade do outro.

Também. O que quero apontar é que você está coisificando o outro. Na mentalidade outroísta impositiva, você não vê o outro como um indivíduo, vê como uma coisa, um objeto. Por isso você chuta o outro como se fosse bola e lhe dá ordens como se fosse robô. Coisas não têm vontade própria, você é a vontade das coisas. Só que indivíduos tem vontade própria. E indivíduos não são coisas. Esse é o equívoco.

Só que esse é um equívoco construído na infância, então, é muito arraigado.

Vamos entender melhor isso.

Assim que você nasceu você sentiu fome. O que você fez?

INTERLOCUTOR: Eu chorei.

E o que aconteceu?

INTERLOCUTOR: Minha mãe me deu comida.

Sua mãe te deu leite no peito, ou então, lhe trouxe fruta, manga, por exemplo. Ok?

INTERLOCUTOR: Ok.

Você perguntou para manga se ela queria ser comida?

INTERLOCUTOR: Não.

Você perguntou para o leite se ele queria ser bebido?

INTERLOCUTOR: Não.

Você perguntou para sua mãe se ela queria ter o peito sugado?

INTERLOCUTOR: Não.

Por que não? O que era sua mãe, a manga e o leite para você?

INTERLOCUTOR: Eram coisas.

E o que você fez com essas coisas?

INTERLOCUTOR: Eu usei.

Usou para quê?

INTERLOCUTOR: Para satisfazer minha fome.

Sendo assim, para que servem as coisas?

INTERLOCUTOR: Coisas servem para me satisfazer.

Eis a mentalidade outroísta impositiva: o outro é uma coisa que serve para me satisfazer.

Ninguém te ensina a viver de forma outroísta impositiva, você aprende com a fome. Se você não comer a manga, se não beber o leite, você morre de fome.

INTERLOCUTOR: Ou aprendo ou morro!

Exato! Quando você era neném e sentia fome, você olhava para sua mãe e perguntava assim: “Querida mamãe, estaria você disposta a colaborar com minha alimentação e colocar seu peito na minha boca?”. Era assim sua interação com sua mãe?

INTERLOCUTOR: Não! Eu grudava no peito e mamava!

Que nome podemos dar para esse tipo de interação?

INTERLOCUTOR: Usar.

Sim, mas tem uma palavra melhor.

INTERLOCUTOR: Manusear.

Tem uma palavra melhor ainda.

INTERLOCUTOR: Controle.

Isso!

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