Além de preguiça, você não tem prática nenhuma em pensar o pensamento. O próprio termo “pensar o pensamento” lhe parece extraterrestre. Nunca ninguém lhe falou sobre isso. Nunca ninguém lhe explicou como fazer isso. Então, além da preguiça, você não consegue pensar o pensamento por ignorar o modus operandi dessa prática. A seguir vou explicar como pensar o pensamento e dar exemplos para retirarmos esse obstáculo. O primeiro passo para pensar o pensamento é você se dividir em dois: observado e observador, pensamento e pensador.
Você já viu a imagem clássica de consultório de psicólogo? O psicólogo fica sentado em uma cadeira e o paciente fica deitado em um divã. A divisão entre observador e observado é assim.
Você-observado (pensamento) é o paciente deitado no divã, então, você-observado deve falar tudo que está pensando SOBRE o acontecimento.
Você-observador (pensador) é o psicólogo sentado na cadeira ouvindo você-paciente, então, você-observador deve ouvir tudo que você-observado está falando sobre o acontecimento e fazer perguntas que o retire da dimensão do acontecimento e o traga a dimensão do autoconhecimento.
Exemplo (1)
Pensamento: Roubaram meu celular.
Pensador: E daí? Qual é o problema?
Pensamento: Não posso ligar para minhas filhas?
Pensador: E daí? Qual é o problema?
Pensamento: Eu amo minhas filhas.
Nesse caso, você descobriu que seu sofrimento não é pelo roubo do celular, mas pelo roubo do seu amor pelas suas filhas. Só que o amor pelas suas filhas não foi roubado de fato, o roubo foi do celular. Mas para o seu pensamento o roubo foi do amor pelas suas filhas. Seu pensamento está equivocado. Mas seu pensamento não é capaz de sair do próprio equívoco. Seu pensamento precisa que “alguém do lado de fora” pense no que ele está dizendo e aponte seu equívoco através de uma pergunta. Esse “alguém do lado de fora” é você-pensador.
Muitas vezes, tudo que você-pensador precisa fazer para se retirar de um profundo sofrimento é se perguntar “e daí?” repetidas vezes. Cada vez que você pergunta e o pensamento responde, você vai aprofundando um pouco mais no autoconhecimento e saindo um pouco mais do mal viver.
Exemplo (2)
Pensamento: Roubaram meu celular.
Pensador: E daí? Qual é o problema?
Pensamento: O que será que fiz de errado para merecer esse castigo de Deus e da vida?
Pensador: E por que você acredita que esse acontecimento é um castigo?
Pensamento: Devemos temer a Deus e fazer a vontade de Deus, caso contrário, Deus castiga.
Nesse caso, você descobriu que seu pensamento pensa que Deus é um ente externo, que é imperativo com sua vontade e que pune as criaturas desobedientes. Você produziu esse autoconhecimento.
Talvez você já tenha sido religioso e se tornou ateu, mas seu pensamento ainda pensa assim, ainda é temente a Deus. Talvez seus pais fossem católicos e você budista, mas ainda assim seu pensamento tem um conceito cristão de Deus. Você produziu esse autoconhecimento.
Exemplo (3)
Pensamento: Roubaram meu celular.
Pensador: E daí? Qual é o problema?
Pensamento: Por que atraí esse infortúnio para mim?
Pensador: Por que você acredita que infortúnios são atraídos?
Pensamento: Por que eu li o livro sobre a lei da atração.
Nesse caso, você descobriu que seu pensamento pensa que infortúnios são atraídos tal como você leu no livro sobre lei da atração. Você produziu esse autoconhecimento. E você pode seguir na investigação fazendo perguntas que faça você descobrir se deve continuar pensando assim.
Exemplo (4)
Pensamento: Por que um ser humano aponta uma arma para o outro e atira?
Pensador: E daí? Qual é o problema?
Pensamento: Cadê o respeito? Cadê a justiça? Cadê o valor à vida? Que valor tem a vida?
Pensador: Respeito, justiça e valor são objetos físicos assim como uma árvore?
Pensamento: Não, são conceitos humanos.
Pensador: Cadê os conceitos humanos, onde estão?
Pensamento: Dentro das pessoas.
Pensador: Todas as pessoas tem a mesma conceituação?
Pensamento: Não, cada um tem uma conceituação diferente.
Nesse caso, você descobriu que cada um tem conceituação diferente, mas seu pensamento pensa que todos devem ter conceituação igual a você, o que obviamente é impossível.