Claro que seu impulso natural é viver sendo você de verdade. Então, para que haja desafio, tem que haver algo que te convença a optar pelo anti-natural. Tem que ter uma serpente no paraíso. Que serpente é essa?
Participante: Medo
Medo do que?
Participante: Do julgamento, da opinião do outro.
É mais convincente do que isso!
Participante: Medo de não ser aceito.
O oposto de aceitação é rejeição, então, você teme a rejeição, a reprovação, a censura. Coloque tudo isso numa palavra só, que palavra é essa?
Participante: Não sei.
Volte na infância e verá como isso tem se repetido desde seu primeiro instante de vida. Pense em Giges visível. Se Giges ficar visível e viver como quer, o que acontecerá com Giges?
Participante: Será punido.
Exatamente. O desafio é a punição. Giges quer viver do seu jeito, mas se faz isso visivelmente, pode ser punido. O anel resolve isso. Quando Giges coloca o anel ele não fica só invisível, fica impune também.
O jeito de viver de Giges representa o viver outroísta submisso. Mas por que viver sendo outro? Qual é o benefício?
Participante: Evitar ser punido.
Exato! Você opta pelo outroísmo submisso para evitar sofrimento. Mas é bom viver sendo outro? Você calça 38, mas opta por usar 32. É bom isso? Você gosta de tocar violão, mas opta por trabalhar de advogado. É bom isso? Você gosta de chinelo e bermuda, mas opta por usar terno, gravata e sapato. É bom isso?
Participante: Não! É ruim!
Percebe o que é o outroísmo submisso? Para não ser punido pelo outro, você tem a brilhante ideia de se punir primeiro. “Ninguém vai pisar em mim, eu mesmo vou me martelar!”. Para não ser punido, você mesmo se pune. Para não sair do paraíso, você mesmo se expulsa. Essa é a genialidade do outroísmo submisso. E o pior é que além de você se punir, o outro vai te punir também.
Participante: Melhor fazer o que quero já que o outro me pune de qualquer jeito.
Exato! Na adolescência isso acontece muito. Você se submete à imposição do grupo para ser aceito no grupo. Só que ainda assim o grupo despreza você, caçoa de você e sacaneia você. Resultado: são dois sofrimentos, duas punições.
Nas relações de pais e filhos isso também acontece muito. Você faz o que seus pais querem para não ser punido ou não ficarem chateados com você. Tem filho que faz faculdade que não gosta para agradar os pais. Daí, a cada dia que passa, o filho vai ficando mais magoado com os pais, porque todos os dias está fazendo algo que não gosta, porque se sente torturado. Só que não. É o filho que está se autotorturando.