Criança

10/11/2022 by in category Capitulos, Casa da razão humana with 0 and 0

Olá, Ser Humano! Eu sou você criança. Eu sou você enquanto sistema sensorial. Sim, eu sou seu prazer de viver. Sou eu que carpe diem. Afinal, assim como o bicho, também não tenho a menor ideia do que é passado e futuro. Os adultos vivem me falando sobre passado e futuro. Tenho dó deles. Quanto esforço mal usado. Eles não entendem por que toda vez que me mostram imagens do futuro ou do passado, vejo como se fosse fato. Claro! Para mim é sempre sempre, eternamente eterno. Passado e futuro são abstrações. Coisa de adulto. Eu sou criança.

A experiência humana, para mim, é um playground. O que sei, quero e entendo é de brincar, me divertir e ter prazer. Sou criança, toda e qualquer abstração é incompreensível. A linguagem que eu falo é a linguagem do gostoso e do ruim, do agradável e do desagradável, do prazeroso e do repulsivo. Se é bom, eu quero. Se é ruim, não quero. Tudo muito simples, direto e sem abstrações.

Minha língua não sabe se o sorvete foi feito hoje, ou ontem, se foi feito na suíça ou na china. A única coisa que minha língua sabe é que o sorvete é gostoso e tem sabor de chocolate. Só isso! Minha língua só sabe de paladar. Paladar é um dos meus brinquedos na experiência humana, assim como olfato, tato, audição e visão. É por isso que quando os adultos me dizem, “Agora não, depois!” ou “Isto não pode porque é errado!”, eu choro, berro, esperneio e faço birra. Eu não sei o que é depois. Eu não entendo abstrações conceituais e éticas. Quando choro, é isto que estou dizendo aos adultos: “Não entendo abstrações”. Mas nossas conversas são conversas de surdo-mudo. Os adultos não entendem meu choro e eu não entendo suas abstrações. Inapropriado, para mim, é tudo que é ruim. Errado é desprazer.

Outra coisa que quero deixar claro. Útil é coisa de bicho! Para mim, tudo é inútil e sem objetivo. Esta coisa de que tal coisa é saudável, de que é benéfica, de que é para o meu bem, e principalmente, de que vai resultar em uma outra coisa, nada disso faz sentido para mim. Para mim, tudo tem uma única utilidade: prazer. Meu objetivo na experiência humana é curtir. Felicidade para mim = gostoso. Eu funciono sempre objetivando o Bom e evitando o Ruim.

Bom = tudo que ACREDITO que é prazeroso para a casa.
Mau = tudo que ACREDITO que é desagradável para a casa.

Ficou claro quem sou eu nesta casa? Eu sou o jogo, a festa, a brincadeira, a conversa, a música, o banquete, o vinho, a dança, o teatro, a poesia, o humor, tudo que dá motivação e prazer de viver. E sendo que o bem viver da casa depende do bem viver dos seus quatro moradores, isso me inclui.

© 2023 • 1FICINA • Marcelo Ferrari