Sim, existe destino. Se não existisse destino, não existiria certo e errado, bem e mal, etc. Sim, existe arbítrio também. Se não existisse arbítrio, não existiria a possibilidade de você optar pelo que é certo ou errado (para você), bem ou mal (para você), etc. Daí tem a tradicional pergunta: como pode existir destino e arbítrio? O problema com essa pergunta é que ela está baseada em um entendimento equivocado do que é destino. Pense em um jogo. Jogar é fazer escolhas para atingir um objetivo. Toda vez que você está jogando um jogo, você opta para atingir o objetivo do jogo. Seu arbítrio tem sempre essa única e mesma motivação, intenção, propósito, destino. Esse é o primeiro esclarecimento que resolve o conflito entre destino e arbítrio. Destino é objetivo. Então, destino e arbítrio não são opostos, são complementares. O segundo esclarecimento é que destino não é você destinado a FAZER algo, é você destinado a SER algo.
Destino não é algo que você está destinado a FAZER, destino é algo que você está destinado a SER. E que algo é esse? Qual é seu destino? O que você está destinado a SER? Simples! Óbvio! Você está destinado a ser você. Esse é seu destino: autorrealização. Aliás, esse é o destino de todos os seres. Autorrealização é o jogo que todos os seres do universo estão jogando agora e sempre. Todo ser é predestinado a ser o que é. Todo ser se destina a si mesmo. Todo ser se destina à realização de si. Todo ser se destina à autorrealização. O destino da Mônica é ser Mônica. O destino do Cebolinha é ser Cebolinha. O destino da Magali é ser Magali. Claro que a Mônica sendo Mônica, fará coisas de Mônica. O fazer se desdobra do ser. Mas o destino da Mônica não é fazer algo, como por exemplo, arremessar um coelho da Terra até a Lua. O destino da Mônica é ser Mônica. No que a autorrealização da Mônica vai resultar para a Mônica, em termos de acontecimento, é o que ela vai descobrir conforme for se autorrealizando. Pode até ser que resulte na Mônica arremessar um coelho da terra até a lua, mas se isso acontecer, é porque isso é a Mônica sendo Mônica.
Uma boa maneira de pensar em autorrealização é pensar que você é uma semente de si mesmo. Semente é você potencial. Você vivendo é você sendo você, realizando seu potencial, se autorrealizando. Então, conforme você vai vivendo, você vai experimentando e descobrindo o que você é. Você já é o fim da viagem. Você já é seu destino. Você já é você assim como uma semente já é a árvore. Só que você não sabe que tipo de árvore você é. Se você soubesse, não tinha brincadeira de descobrir. Você brinca de autorrealização para descobrir passo a passo. É por isso que algumas tradições filosóficas dizem que você já é o que será. Você já é seu futuro porque a árvore de amanhã já está na semente de hoje. Mas a semente é árvore em potencial. Brotar e crescer é a árvore se autorrealizando. O mesmo com você em seu processo de autorrealização. Eis aí explicado o sentido da vida: ser. Sabe aquelas três perguntas: Quem eu sou? De onde eu vim? Para onde eu vou? Você é você, vem de você e vai para você.
Agora vou explicitar algo que causa muita confusão. Você sabe que você é você e que não tem como deixar de ser você. Isso é óbvio! Então, autorrealização é uma grande besteira, pois você é você, inevitavelmente. Aí tem uma sutileza. Sim, você é você, inevitavelmente, não tem outro jeito. Mas o fato de você ser você, não significa que você ESTÁ SENDO VOCÊ. Você é SER. Viver é ESTAR. Viver é você optando entre estar sendo ou não estar sendo você. Você pode viver sendo você, mas também pode viver não sendo você. Ou seja, ao viver você pode errar seu destino e viver fora dele. Como? Vivendo em uniformidade. Negando sua unicidade. Vivendo de forma outroísta.
Vou trocar a palavra “destino” por outra palavra para explicitar a relação do outroísmo com o destino. Brincar de autorrealização é como fazer uma prova sobre si mesmo. Toda prova tem gabarito. É por causa do gabarito que uma prova tem certo e errado. Seu destino é seu gabarito. Ou seja, seu destino é o que é certo para você. Outroísmo é a opção errada que coloca você à prova. Por que errada? Porque quando você opta pelo outroísmo você está se obrigando a viver igual ao outro, de acordo com o gabarito do outro. O outro tem um gabarito diferente de você (destino diferente) e vice-versa. Então, outroísmo é a opção errada. A prova disso é que não funciona, é ruim, faz você viver igual semente de abacate tentando ser laranjeira.