02 | Rosa dos ventos

11/11/2022 by in category Capitulos, Queime seus navios with 0 and 0

A viagem é curta. Chego em Uberlândia e vou direto para casa de Fábio e Fernanda. Eles me recebem com carinho e pão de queijo. Dormimos. No dia seguinte, depois do almoço, saímos para comprar flores. Levamos todas para Rosa dos Ventos, nome que Fernanda deu ao espaço em que aplica Reiki. Fábio arruma o laptop e as caixas de som sobre a mesa. Quando é por volta de cinco da tarde, a Rosa dos Ventos está pronta, só aguardando o vento.

Fábio coloca a seleção de músicas para tocar e começamos a meditar. De repente, me dou conta que não estou mais ouvindo música, estou música. É uma festa. A música baila e eu bailo junto. Sigo bailando e a festa se intensifica. Não tenho mais corpo. Sou musica e bailado. Tambores, flautas, violino, vozes e cantos.

— Vamos subir os sete degraus do salão das almas — diz a voz guia, misturada com a música da meditação.

Percebo que Fábio preparou uma meditação guiada. Não me incomodo, pelo contrário, subir os degraus do salão das almas é como brincar de vídeo game dos anjos. A cada degrau sinto uma gama nova de sensações. Quando chego no último degrau, abro a porta do salão e minha alma explode de alegria. Começo a sentir o coração de Fábio e Fernanda batendo junto com o meu. Minhas mãos já não cabem paradas. Ergo os braços, abro as mãos e começo a espalhar aquela energia que transborda pelo ambiente e pelo meu próprio corpo.

A música vai diminuindo e meu corpo vai se contraindo junto, até ficar em repouso. Outra música começa e meu corpo volta a se expandir e se abrir. De repente:

— Presta atenção! — meu corpo me diz e eu sequer acho estranho.
— Prestar atenção em que? — pergunto ao corpo.
— Concentre-se nos olhos, na visão.

Faço o que meu corpo está pedindo e me concentro na visão. Uma forte carga de energia faz com que os músculos dos olhos comecem a se contrair. Os músculos vão se contraindo, se contraindo, se contraindo, e a sensação de luminosidade vai ficando cada vez menor. Não há desconforto e nem é a primeira vez que entro neste breu. Quando a contração atinge seu limite e a escuridão é profunda, os músculos dos olhos se soltam feito elástico de estilingue. A sensação luminosa volta a se expandir e, como um sol, vai banhando toda consciência.

— Entendeu? — meu corpo me pergunta.
— Creio que sim. — respondo.
— Então me explica. — meu corpo me diz.
— Luz e sombra, inspiração e expiração.

Meu corpo executa o mesmo movimento facial mais algumas vezes para ficar bem registrado na memória. Depois ele assume uma postura serena e volta a bailar. Fábio me oferece uma música de amizade. Não ouço a musica, ouço a intenção. Quando Fábio está prestes a concluir a meditação, me pergunta se quero falar. Eu quero. Eu tento. Mas não consigo. Meu racional não está funcionando como de costume. Não consigo articular as ideias. Fábio e Fernanda entendem minha situação e damos uma deliciosa gargalhada coletiva.

© 2023 • 1FICINA • Marcelo Ferrari