Vou falar algumas palavras e peço para que vocês escrevam essas palavras no bloco de notas do computador. Estão prontos?
PARTICIPANTE: Sim, pode falar.
Sal, Açúcar, Limão e Melancia.
Escreveram?
PARTICIPANTE: Sim.
Ótimo! Agora vamos entrar no tema. Pergunto: É possível o outro controlar você? Sim ou não?
PARTICIPANTE: Sim.
PARTICIPANTE: Não.
Vamos começar pela resposta “não”. Justifique sua resposta.
PARTICIPANTE: Não, porque tenho arbítrio. Mesmo quando digo sim, querendo dizer não, a escolha é sempre minha, sou eu que decido.
Ótimo! Agora a resposta “sim”. Justifique sua resposta.
PARTICIPANTE: Sim, é possível o outro me controlar com minha permissão.
Percebem que as duas respostas, sim e não, possuem a mesma justificativa? Sim, o outro pode controlar você quando você permite. E não, o outro não pode controlar você quando você não permite. Ou seja, de fato, é impossível o outro controlar você, porque você tem arbítrio. E vice versa. O outro não pode controlar você nem você pode controlar o outro. O que impossibilita isso é o arbítrio.
Mas se é impossível controlar o outro ou ser controlado, devido ao arbítrio, qual é o sentido de estarmos aqui estudando estratégias de controle?
PARTICIPANTE: Ótima pergunta! Não sei.
Agora vou desdizer o que disse. É possível controlar o outro, e vice versa, muito embora exista o arbítrio. Como?
PARTICIPANTE: Ainda não sei.
Pelo convencimento.
Você não tem como controlar o outro e vice versa. Mas um pode convencer o outro. Seu arbítrio é como o teclado do seu computador, só você tem acesso, só você pode digitar nele, sua realidade é o que aparece na tela, resultado do seu arbítrio, ou seja, resultado do que você digita no seu teclado. No começo dessa conversa apareceram quatro palavras na tela do computador de vocês, não foi?
PARTICIPANTE: Sal, Açúcar, Limão e Melancia.
Isso mesmo! Eu queria que vocês escrevessem essas quatro palavras. Era um desejo meu, não era de vocês. Só que eu não tenho acesso ao teclado de vocês. Ou seja, não tenho como controlar o arbítrio de vocês. Contudo, eu controlei. Tanto controlei que essas quatro palavras estão aparecendo aí na tela do computador de vocês. Como isso é possível?
PARTICIPANTE: Você pediu para que nós escrevêssemos e nós atendemos seu pedido.
Exato! Eu fiz um pedido e convenci vocês a fazerem o que eu queria. Só que quem fez não fui eu, foram vocês.
Tá claro isso?
PARTICIPANTE: Sim
Se quem fez foi você, o que isso significa?
PARTICIPANTE: Não sei.
Significa que quem fez não fui eu, foi você.
PARTICIPANTE: Sim, óbvio.
O que você experimenta é sempre o que você opta experimentar, quer seja uma opção que você mesmo imagine, quer seja uma sugestão do outro. No final das contas, em questão de experimentação, pouco importa de onde vem a opção, da sua própria imaginação ou de uma sugestão alheia, tudo se resume ao seu arbítrio. Se você não quer experimentar limão, basta você não optar por essa opção. Assim como é impossível a palavra limão aparecer na tela do seu computador se você não digitá-la, também é impossível a experiência limão aparecer na sua experiência se você não optar por ela. Você está sempre no controle da sua experiência, pois até mesmo para você fazer o que o outro quer que você faça, você precisa optar por isso. Seu arbítrio é sempre a causa do que você está experimentando. Ou seja, o outro pode tentar te controlar, mas não pode conseguir. O outro só consegue te controlar com sua permissão. E vice versa. Você pode tentar controlar o outro, mas não pode conseguir também. Você só consegue controlar o outro com permissão dele.
O filme Advogado do Diabo tem um ótimo exemplo disso. O advogado diz ao diabo: “Você me manipulou, me enganou, você me levou a fazer essas coisas”. O diabo responde: “Engano seu, pois até lhe disse para desistir. Você fez tudo por opção sua”. Ou seja, embora o outro possa e esteja constantemente te manipulando e vice versa, embora o outro possa e esteja constantemente te influenciando e vice versa, a responsabilidade pelo que cada um está experimentando é sempre de cada um.
Influenciar não é determinar. Entre as influências e a realidade experimentada, está o arbítrio. O ambiente pode influenciar fortemente na decisão. De fato, o ambiente sempre influencia fortemente na decisão. Mas influenciar não é decidir. No filme Advogado do Diabo, o diabo influenciou o advogado, tentou convencê-lo de várias formas a fazer o que ele queria, mas não determinou a escolha do advogado. Eu fiz a mesma coisa quando pedi para vocês escreverem “sal, limão, açúcar e melancia” no computador. Eu influenciei vocês, mas quem escreveu foram vocês.
Para controlar o outro, você precisa convencer o outro, pois é impossível controlar o outro de forma direta, atuando no arbítrio do outro. Assim como um não tem como digitar as palavras “sal, limão, açúcar e melancia” no teclado do outro, pois somente cada um tem acesso ao próprio teclado, somente cada um pode executar o próprio arbítrio.
Para que seja possível um controlar o outro, é necessário um meio de influência. Meio é a estratégia, maneira, jeito, método. No início dessa conversa, para que vocês fizessem o que eu queria, eu disse: “Preciso da ajuda de vocês, por favor, façam uma coisa para mim. Será importante para o entendimento do que vamos estudar hoje”. Essa foi minha estratégia de convencimento para convencer vocês a fazerem o que eu queria. E minha estratégia funcionou. Porém, só influenciei, vocês só escreveram porque aceitaram minha influência.
É fundamental entender a diferença entre determinação e influência. Muitas coisas podem te influenciar, às vezes a influência é quase irresistível, mas não é determinação. O que determina seu viver é sua escolha, seu arbítrio.
O diabo representa a influência tentadora. O diabo pode ser uma circunstância, uma pessoa, uma sociedade, o que for. O diabo representa algo que está tentando fazer com que você saia do viver autoísta e entre no jogo do controle (outroísmo). Mas o diabo não pode ganhar de deus. Por que não? Porque deus é seu arbítrio. O que cria sua realidade é seu arbítrio. Então, só você pode criar sua realidade.
Mas para que estudar estratégias de controle, se você não quer jogar o jogo do controle?
PARTICIPANTE: Para eu não cair em tentação.
Mais do que isso! Para você sair da tentação que está caído. Você vive caído em tentação. Seu viver é o jogo do controle. Só que você não percebe isso. O estudo das suas estratégias de controle é para você perceber o que você está constantemente fazendo, mas não percebe. Você está doente e o caminho para cura é você estudar minuciosamente sua doença. Suas estratégias de controle são as minúcias da sua doença.