Introdução ao jogo

11/11/2022 by in category Capitulos, Jogo do controle with 0 and 0

Imagine que você se juntou a um grupo de seres para jogar um jogo. Esse jogo funciona com todos vocês se trancando numa cadeia. Cada um é diferente do outro, só que ninguém sabe disso, pois cada um só sabe de si. Vocês entram nessa cadeia, fecham a porta e não tem como sair. O jogo é simples assim. Imaginou? É isso mesmo! Essa cadeia é exatamente essa experiência humana que você está experimentando. E por que é uma cadeia?

PARTICIPANTE: Para não fugir?

Do que você fugiria?

PARTICIPANTE: Da convivência com o outro.

Exatamente! Ser humano é se meter dentro de uma experiência de interação com os outros. Uma vez que você está na experiência humana, você não tem como sair da convivência humana. Esse é o simbolismo da cadeia. Você nunca está apenas vivendo, você está sempre convivendo.

Viver é conviver. A convivência é o tempo todo. Quer você goste quer não, quer esteja consciente quer não, você está preso na cadeia da convivência. Você não tem outra opção. Conviver é obrigatório.

Sendo assim, pergunto: O desafio dessa brincadeira é conviver?

PARTICIPANTE: Sim.

Não! Conviver não é desafio, pois não é opcional. Conviver é inevitável. Logo, o desafio da brincadeira da convivência tem que ser outro além da convivência. Qual?

PARTICIPANTE: Boa convivência.

Isso mesmo! Conviver bem ou conviver mal são as duas possibilidades dentro de uma brincadeira de convivência. Cada momento da sua experiência humana é um momento de convivência. Cada momento da sua experiência humana você pode conviver bem ou conviver mal. O desafio é conviver bem.

Não existe vida, só existe viver. Ou seja, você está sempre vivendo. Só que viver é conviver. Então, você nunca está vivendo, você está sempre convivendo. Nesse exato momento, por exemplo, seu viver é você participando dessa conversa. Se você decidir sair dessa conversa e ir ao supermercado fazer compras, você estará convivendo com as pessoas que estiverem no supermercado. Se você decidir entrar numa caverna para não conviver com ninguém, você estará convivendo com a caverna. Nem sempre sua convivência é com outro ser humano, mas sempre é com o outro.

Viver é conviver. Não tem para onde fugir. A todo instante você está convivendo e só lhe restam duas opções: conviver bem ou conviver mal. Ou seja, o que você pode optar é pela qualidade da sua convivência. Isso facilita demais viver, porque uma vez que você entende que viver é conviver, e que só tem duas opções, conviver bem ou conviver mal, com o que mais você precisa se ocupar senão em conviver bem? Todo o resto fica secundário. Todo o resto é apenas o tabuleiro do jogo. Todo resto é apenas cenário para seu único desafio: conviver bem.

PARTICIPANTE: E por que conviver bem é um desafio?

A dificuldade é que cada um dentro dessa cadeia tem um gabarito diferente, mas ninguém sabe disso. Cada um dentro dessa cadeia, supõe que o gabarito que serve pra si mesmo, serve para todos os outros. E cada um supõe isso, não por maldade, mas pela própria natureza da individualidade. Você é um indivíduo porque você sabe só de si. A natureza de ser um indivíduo impossibilita que você saiba a natureza do outro indivíduo. É por você não saber do outro que você não é o outro. Então, por não saber do outro, só lhe resta a possibilidade da suposição. Você se baseia em si e supõe seu gabarito para o outro. Se todos os indivíduos da cadeia tivessem o mesmo gabarito, ou se fosse possível um saber pelo outro, não haveria dificuldade, a brincadeira seria fácil. Mas a brincadeira é desafiadora justamente porque é necessário que você viva de acordo com o seu gabarito e conviva bem com o gabarito do outro, no escuro, sem saber do gabarito do outro. Esse é o desafio.

Vou resumir para concluir. Viver é conviver. Isso é inevitável. Sua convivência pode ser de dois tipos: má convivência ou boa convivência. Você opta entre viver autoísta ou viver outroísta. Essa sua opção se desdobra em comportamentos. Seus comportamentos se desdobram na qualidade da sua convivência. Jogo do controle é quando você opta pelo viver outroísta que se desdobra em uma convivência outroísta.

© 2023 • 1FICINA • Marcelo Ferrari