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Violência inevitável

Violência inevitável

Outroísmo impositivo é quando você tenta impor ao outro o que você considera melhor, é quando você tenta impor seu jeito de viver ao outro, é quando você tenta fazer o outro viver de acordo com seu quatrix. Ao fazer isso, você está violando a individualidade do outro. Lembrando que violência pode ser física, sensorial, afetiva e intelectual, afirmo que violentar o outro é inevitável. E pergunto: por quê?

INTERLOCUTOR: Porque não sou o outro e vice versa.

Exato! Outroísmo impositivo é inevitável pelo simples fato de que você não é o outro. A própria alteridade faz com que a violência seja inevitável.

Agora, vamos aprofundar nisso. Por que a alteridade torna a violência inevitável?

INTERLOCUTOR: Porque eu não sei o que é melhor para o outro e vice versa.

Tem certeza disso?

INTERLOCUTOR: Sim, tenho.

De onde vem sua certeza?

INTERLOCUTOR: Só sei de mim. Não sei o que o outro pensa, sente, gosta, quer, etc.

Exatamente! Você sabe o que você pensa, sente, gosta, quer, mas não sabe nada disso do outro. Usando os termos da 1ficina, você experimenta seu quatrix, mas não experimenta o quatrix do outro. Certo?

INTERLOCUTOR: Certo.

Sendo que você está constantemente e inevitavelmente convivendo com o outro, mas não experimenta o quatrix do outro, o que você faz?

INTERLOCUTOR: Eu violento o outro.

Sim, mas tem uma coisa que você faz antes disso que resulta nisso.

INTERLOCUTOR: Eu penso saber pelo outro.

Quase isso.

INTERLOCUTOR: Eu imagino.

Quase isso.

INTERLOCUTOR: Eu adivinho.

Se você pudesse adivinhar o quatrix do outro, estava tudo resolvido. A violência só existe porque é impossível um adivinhar o quatrix do outro.

INTERLOCUTOR: Eu suponho.

Isso mesmo! Você supõe. Você não pode experimentar o quatrix do outro, mas como está constantemente e inevitavelmente convivendo com o outro, só lhe resta supor o que o outro pensa, sente, quer, gosta, etc. Só que para supor, você deve se basear em algo. No que você se baseia?

INTERLOCUTOR: Me baseio em mim.

Exato! Você se baseia no seu quatrix. Você só pode experimentar seu quatrix, então, você só tem seu quatrix para se basear. Está claro isso?

INTERLOCUTOR: Sim, está!

Pensa que sabe

Pensa que sabe

Ótimo! E qual é o problema com sua suposição?

INTERLOCUTOR: O problema é que eu sou diferente do outro e vice versa.

Exatamente! O problema é que você é diferente do outro e vice versa.

Só que você não tem outra opção senão supor. Você é um indivíduo. Você só pode supor seu quatrix para o outro. E é isso que você faz. Você se baseia em si e supõe o que é melhor para o outro. Mas você é diferente do outro e vice versa, então, sua suposição é sempre equivocada.

INTERLOCUTOR: Estou a 33 anos batendo na mesma tecla. Finalmente entendi.

Outroísmo impositivo é uma opção QUASE inevitável. Sua própria natureza de individuo lhe induz a viver de forma outroísta impositiva.

Outroísmo submisso é fácil de você perceber. Você sente na pele que determinada opção não está em acordo com seu quatrix. Você sente sua dor, sente seu sofrimento. Mas quando você está sendo outroísta impositivo, você não sente a dor que está causando no outro. A bala que está saindo do seu revólver não está ferindo você, então, você não sabe que está violentando o outro. E vice versa. O outro também não sabe que está violentando você.

Onisciência

Onisciência

INTERLOCUTOR: Não tem como saber do quatrix do outro de jeito nenhum?

Sim, tem um jeito. Só um. Mas para que você possa colocar esse único jeito em prática, antes você precisa estar consciente de algo, senão, é impossível. Que algo é esse?

INTERLOCUTOR: Estar consciente de que é impossível saber do quatrix do outro.

Exatamente! Enquanto você estiver convicto de que é possível saber do quatrix do outro, não tem como você sair do outroísmo impositivo. Só quando você está consciente de que é impossível, você pode optar por outra estratégia de saber que não a suposição.

INTERLOCUTOR: Qual estratégia?

A estratégia do diálogo. Simples assim! A estratégia que torna você onisciente é a comunicação. É através do diálogo, e só através do diálogo, que você consegue saber do outro e assim minimizar a violência (outroísmo impositivo).

A matemática da convivência funciona assim:

Quanto menos diálogo,
mais outroísmo impositivo,
quanto mais outroísmo impositivo,
mais violência,
quanto mais violência,
pior a qualidade da convivência.

Quanto mais diálogo,
menos outroísmo impositivo,
quanto menos outroísmo impositivo,
menos violência,
quanto menos violência,
melhor a qualidade da convivência.

Equívoco sincero

Equívoco sincero

O filme Energia Pura simula uma pessoa que consegue experimentar o quatrix do outro, que consegue saber o que o outro pensa, sente, quer, gosta, etc. Então, esse filme ajuda a entender porque você é inevitavelmente violento. Você violenta o outro sem saber que o está violentando. Você supõe que está lhe fazendo um bem. Tem convicção de que está lhe fazendo um bem.

Está claro isso?

INTERLOCUTOR: Sim, está.

Então, vamos dar mais um passo no entendimento do outroísmo impositivo.

Coisificação

Coisificação

Quando você desconsidera o Quatrix do outro, o que você está fazendo com o outro?

INTERLOCUTOR: Violentando o outro.

Nessa pergunta, não me refiro ao seu comportamento, mas sim ao seu estado mental. Quando você desconsidera o quatrix do outro, o que você está fazendo com o outro dentro da sua cabeça?

INTERLOCUTOR: Supondo que o outro é igual a mim.

Também. Mas é outro aspecto que quero deixar explícito.

INTERLOCUTOR: Desconsiderando a unicidade do outro.

Também. O que quero apontar é que você está coisificando o outro. Na mentalidade outroísta impositiva, você não vê o outro como um indivíduo, vê como uma coisa, um objeto. Por isso você chuta o outro como se fosse bola e lhe dá ordens como se fosse robô. Coisas não têm vontade própria, você é a vontade das coisas. Só que indivíduos tem vontade própria. E indivíduos não são coisas. Esse é o equívoco.

Só que esse é um equívoco construído na infância, então, é muito arraigado.

Vamos entender melhor isso.

Assim que você nasceu você sentiu fome. O que você fez?

INTERLOCUTOR: Eu chorei.

E o que aconteceu?

INTERLOCUTOR: Minha mãe me deu comida.

Sua mãe te deu leite no peito, ou então, lhe trouxe fruta, manga, por exemplo. Ok?

INTERLOCUTOR: Ok.

Você perguntou para manga se ela queria ser comida?

INTERLOCUTOR: Não.

Você perguntou para o leite se ele queria ser bebido?

INTERLOCUTOR: Não.

Você perguntou para sua mãe se ela queria ter o peito sugado?

INTERLOCUTOR: Não.

Por que não? O que era sua mãe, a manga e o leite para você?

INTERLOCUTOR: Eram coisas.

E o que você fez com essas coisas?

INTERLOCUTOR: Eu usei.

Usou para quê?

INTERLOCUTOR: Para satisfazer minha fome.

Sendo assim, para que servem as coisas?

INTERLOCUTOR: Coisas servem para me satisfazer.

Eis a mentalidade outroísta impositiva: o outro é uma coisa que serve para me satisfazer.

Ninguém te ensina a viver de forma outroísta impositiva, você aprende com a fome. Se você não comer a manga, se não beber o leite, você morre de fome.

INTERLOCUTOR: Ou aprendo ou morro!

Exato! Quando você era neném e sentia fome, você olhava para sua mãe e perguntava assim: “Querida mamãe, estaria você disposta a colaborar com minha alimentação e colocar seu peito na minha boca?”. Era assim sua interação com sua mãe?

INTERLOCUTOR: Não! Eu grudava no peito e mamava!

Que nome podemos dar para esse tipo de interação?

INTERLOCUTOR: Usar.

Sim, mas tem uma palavra melhor.

INTERLOCUTOR: Manusear.

Tem uma palavra melhor ainda.

INTERLOCUTOR: Controle.

Isso!

Controle ou morte

Controle ou morte

Logo que você nasce você aprende sozinho que precisa controlar as coisas ao seu redor ou vai morrer. Controle ou morte! Isso é fato até hoje! Você precisa controlar o garfo e a faca para comer. Você precisa controlar a temperatura da água para cozinhar. Você precisa controlar o sabonete para se lavar. Você precisa controlar o carro para se deslocar. Observe sua rotina. Você passa o dia inteiro controlando as coisas. Não é só na infância. Na infância você começa a entender que deve controlar as coisas. E isso continua para sempre. E você não controla apenas para não morrer de fome. Comer não é seu único desejo. Você também quer ter prazer, por exemplo. E para ter prazer, você pode, por exemplo, controlar a televisão e colocar no filme que você gosta. Você também quer afeto, apreço, amor. Você também quer verdade. E para satisfazer tudo isso: controle.

Cooperação

Cooperação

Você descobre na infância que precisa controlar as coisas e cresce fazendo isso. Daí você vai descobrindo que você mesmo não é uma coisa, que você é um ser humano, um indivíduo, com vontade própria. Então, você começa a considerar que o mesmo deve ser com os outros seres humanos. Você começa a considerar que sua mãe não é uma coisa. Você pensa assim: “Se dói quando me tratam como coisa, então, deve doer no outro também”. Daí surge uma nova possibilidade de convivência. Qual?

INTERLOCUTOR: Convivência humana.

Vou usar outra palavra para expressar o oposto de imposição. Daí surge a possibilidade de cooperação. Daí surge a possibilidade de você conviver com o outro de fato, outro você, outro ser humano, outro indivíduo e não uma coisa que só existe para te satisfazer.

INTERLOCUTOR: Muda tudo, né?

Muda tudo sem mudar nada. Eis o poder do despertar da consciência.

Deus do vigésimo andar

Deus do vigésimo andar

Vou contar uma história para explicar porque você acredita que outroísmo impositivo é bom e porque não é.

Era uma vez um cara que acreditava ser dono dos outros, mais especificamente dos moradores do vigésimo andar de um prédio. Ele morava no corredor do prédio e decidia a vida de todos naquele andar. Era ele quem determinava quem entrava e quem saía, o que podia e o que era proibido. Então, um dia, um morador do sétimo andar, desceu por engano no vigésimo andar. O cara foi imediatamente reclamar com ele.

— Você não pode ficar aqui!
— Que andar é esse? — perguntou o intruso.
— Esse é o vigésimo andar!
— Acho que desci no andar errado.
— Pois é! Pode ir embora!

O intruso estranhou o comportamento do cara e perguntou:

— Quem é você para me mandar embora?
— Meu nome é Deus. Sou o dono desse andar. Aqui mando eu. Todos me obedecem. Só entra aqui quem eu permito entrar. Só sai daqui quem eu permito sair. Só acontece o que eu permito acontecer. Eu decido a vida de tudo e de todos.
— Faz tempo que você manda aqui?
— Eu mando aqui há 30 anos.
— Deve ser trabalhoso decidir a vida de tudo e de todos, não?
— É muito trabalhoso! Eu trabalho 24 horas por dia, sete dias por semana.
— E isso há 30 anos!
— Exato! 30 anos sem férias.

O intruso andou pelo vigésimo andar e foi até a janela no final do corredor. Da janela dava para ver uma cidade imensa. Ele chamou Deus até a janela, apontou para fora e começou a perguntar:

— Você já comeu naquele restaurante ali?
— Não — disse Deus.
— Já andou por aquela rua?
— Também não — disse Deus.
— Já atravessou aquela ponte?
— Não — disse Deus.
— Já entrou naquele supermercado.
— Não — disse Deus.
— Já foi àquela padaria?
— Não — disse Deus.
— Você conhece algum outro lugar além do vigésimo andar?
— Não — disse Deus.
— E por que não?
— Porque não é fácil cuidar da vida dos outros! São muitos detalhes e muitas ordens para dar para cada um. São 24 horas de trabalho, sem parar, não sobra tempo para fazer mais nada — disse Deus.
— Ué, você é dono do outros ou escravo deles? — perguntou o intruso.

Maldição de Sísifo

Maldição de Sísifo

Imagine que você está empurrando uma pedra. O que acontece se você parar de empurrá-la? A pedra para imediatamente de se mover, não é? E por que? Porque a pedra não estava se movendo por vontade própria, era a sua vontade que estava movendo a pedra. Analogamente, o mesmo acontece com tudo que você empurra, marido, esposa, namorado, filhos, amigos, sociedade, etc. Quando você para de empurrá-los, eles param de se mover, pois eles também não estão se movendo por vontade própria, é a sua vontade que está movendo todos eles.

E qual é o problema de empurrar os outros? O problema é que, igual no mito de Sísifo, você perde sua vida fazendo um trabalho exaustivo, inútil e sem sentido. Sísifo foi um personagem da mitologia grega que enganou os deuses e foi condenado a realizar um trabalho exaustivo, inútil e sem sentido: empurrar uma grande pedra montanha acima por toda a eternidade. Toda vez que Sísifo empurrava a pedra até o topo da montanha, a pedra rolava para abaixo. Então Sísifo tinha que empurrar a pedra novamente até o topo, todos os dias, por toda a eternidade.

No trabalho da 1ficina, a maldição de Sísifo recebe o nome de Outroísmo Impositivo. Outroísmo porque o propósito da sua vida é a vida dos outros, impositivo porque esse propósito é empurrar os outros. Você acredita que os outros devem ser verdes, então, os empurra para o topo da montanha verde. Assim que você para de empurrar, eles voltam a ficar amarelos, azuis, vermelhos, cinzas, alaranjados, etc. Daí, lá vai você, feito Sísifo, empurrar os outros novamente para o topo da montanha verde.

Claro que, sendo outroísta impositivo, você tem convicção de que está fazendo um bem aos outros. Outroísmo impositivo é síndrome de super-herói. Só que ninguém gosta de ser empurrado para dentro de padrões alheios. Então, você não está salvando nem fazendo bem a ninguém. Mas o pior não é isso. O pior é que se você passa a vida empurrando a vida dos outros, como vai empurrar a sua?

A grande maldição de Sísifo, não é que ele jamais obterá êxito em sua missão, mas que irá perder sua vida fazendo um trabalho exaustivo, inútil e sem sentido. A grande maldição do outroísmo impositivo também é essa. Quanto mais você tenta ganhar no jogo de controlar a vida dos outros, mais você perde o controle da sua própria vida. Você vive mal, pois se já é problemático viver empurrando uma pedra, mais problemático ainda é viver empurrando seres humanos que possuem vontade própria e arbítrio.

Sísifo está condenado mesmo, não tem jeito, pois a maldição de Sísifo é um castigo dos deuses. Só que o mesmo não ocorre com a maldição do outroísmo impositivo. Não é um castigo dos deuses. Nada nem ninguém obriga você a viver de forma outroísta impositiva. É uma escolha sua. Você mesmo se obriga a viver igual Sísifo. E essa é a boa notícia. Pois, sendo opção sua, você sempre pode mudar de opção.

Abra a mão, a pedra cai sozinha.

Pergunta que não quer calar

Pergunta que não quer calar

Minha mãe, como toda mãe, tentou me encaixar no gabarito dela. Só conseguiu sofrer com isso. Quando vinha me catequizar, eu dizia: “livre arbítrio”. Minha mãe deve ter me escutado falar “livre arbítrio” um milhão de vezes.  Ela queria subir pelas paredes de raiva, mas entendia perfeitamente. Minha mãe usava outras estratégias além do sermão da montanha. Usava chantagem emocional, ameaça, castigo. Nada adiantava frente o incorruptível livre arbítrio. E foi assim, sem jamais explicar nada para ela, que lhe ensinei todo o catecismo da boa convivência.

Minha mãe foi criada para obedecer. O catecismo dela foi a vara de marmelo. E como ela era desobediente, estava sempre apanhando. Mas ainda assim, repetiu comigo o mesmo comportamento da mãe dela com ela. Por amor, claro! Muito amor. Só que amor ignorante da universalidade. Muitas vezes tenho a sensação que os alunos da 1ficina, principalmente as alunas mães, vem estudar na 1ficina justamente para me ouvirem dizer a elas o mesmo que dizia para minha mãe: “livre arbítrio”.

A pergunta que mais ouço dos alunos, é: “O que eu faço?”. Ora, “O que eu faço?” é a pergunta que perpetua o problema. “O que eu faço?” é mais do mesmo. “O que eu faço?” é trocar seis por meia dúzia. “O que eu faço?” é pegar mais farinha no mesmo saco. Nada novo resolve porque são reformulações do mesmo equívoco. A solução não está na pergunta “O que eu faço?”. A solução está na pergunta “O que devo parar de fazer?”.  Para viver e conviver bem, você deve parar de tentar controlar o arbítrio do outro.

Fracasso na faxina

Fracasso na faxina

Você tenta limpar uma casa. Você tem água, sabão, detergente, escovas, aspirador de pó e muita motivação. Porém, por mais que tente limpar essa casa, não consegue. A sujeira não sai. A bagunça continua. Você não entende porque fracassa, mas não desiste. Nada abala sua motivação. Todo dia você acorda e tenta novamente. Heroicamente. E segue fracassando até morrer. Quando morre, fica arrasado. Você passou a vida inteira tentando limpar uma casa e fracassou. Você sente que desperdiçou sua vida. Tanto trabalho para nenhum resultado. A frustração é tanta que você não consegue parar de chorar. Um anjo escuta seu choro e vem conversar com você. Ele pergunta o que aconteceu e você conta sua história. O anjo vai até a casa que você tentou limpar e volta para conversar com você.

— Você cometeu um grande equívoco — diz o anjo.

— Qual equívoco? — você pergunta — Usei o sabão errado? Usei a escova errada? Usei o detergente errado? O que foi que fiz de errado?

— Você tentou limpar a casa errada! — responde o anjo — Aquela casa não é a sua! É a casa do outro!

Não faça a coisa certa no lugar errado. Faxina mental é certo, mas a única mentalidade que você consegue limpar é a sua.

PERGUNTAS

Atitude política excludente é outroísmo?

Atitude política excludente é outroísmo?

Ter simpatia por uma ideologia política e antipatia por outra é natural, saudável e inevitável. Assim como temos simpatia por algumas frutas e antipatia por outros, o mesmo acontece com as ideologias. Contudo, não é porque amamos banana e odiamos laranja que precisamos excluir as laranjas do mundo. Tem muitas pessoas que amam laranja. E tem espaço para todos. Amantes de bananas e amantes de laranjas podem conviver em paz, cada um com sua preferência. O mesmo pode acontecer com as ideologias políticas. Amantes da ideologia A e amantes da ideologia B podem conviver em paz, cada um com sua preferência. Também tem espaço para todos. Então, se você tem uma atitude política excludente, se observe e descobrirá que sim, é um comportamento outroísta, pois você está indo contra o outro, e autoísmo é ir a favor de si.

Cobrar o outro é imposição?

Cobrar o outro é imposição?

Depende, você está cobrando algo que foi combinado? O combinado não é caro, nem outroísmo.

Como ajudar o outro se não posso falar o que está certo ou errado?

Como ajudar o outro se não posso falar o que está certo ou errado?

Somos oito bilhões de super heróis, todos tentando salvar o mundo. E salvar o mundo do que? Do errado. O cristão quer salvar o mundo do islamismo e o islâmico quer salvar o mundo do cristianismo. O ateu quer salvar o mundo da crendice e o crente quer salvar o mundo do ateísmo. Os heterossexuais querem salvar o mundo da homossexualidade e os homossexuais querem salvar o mundo da heterossexualidade. A esquerda quer salvar o mundo da direita e a direita quer salvar o mundo da esquerda. Os pais querem salvar os filhos e os filhos querem salvar os pais. Resultado, treta, guerra, soco, pontapé, facada, mágoa, inimizade, ódio, etc. E tudo em nome de ajudar o outro. Ajudar o outro é piada! É mentira cabeluda! Ninguém quer ajudar o outro. Cada um quer ajudar a si mesmo. Cada um quer que o outro reze sua cartilha. Cada um quer que sua verdade seja absoluta. Se não fossemos hipócritas e admitíssemos isso, daí sim, ajudaria. Mas não, somos todos certos e santos. O vilão é sempre o outro. A culpa é sempre do outro. O errado é o outro. O inferno é o outro. O capeta é o outro. Eu sou o salvador. Eu imponho meu certo ao outro porque são as bases da santidade, da verdade, do amor e da salvação. Dito isso, você pode expor sua opinião e seu critério de valores ao outro sem ser um caga regras. Como? Exatamente como estou fazendo aqui: explicando. E só estou fazendo isso porque você me perguntou. Se não tivesse me perguntado, não lhe explicaria nada, pois estaria sendo invasivo. Expor é diferente de impor. Explicar é diferente de implicar. Expor e explicar é saudável e produz bem viver. Impor e implicar é violento e produz mal viver.

Como as religiões deveriam se comportar diante da política?

Como as religiões deveriam se comportar diante da política?

Alguma vez você foi na igreja e assistiu a religião rezando uma missa? Claro que não! Quem reza a missa é o padre. Quem se comporta assim ou assado são os religiosos e não a religião. Estando isso esclarecido, sugiro que você escreva uma carta para os religiosos expressando o que eles estão fazendo de errado e como eles deveriam se comportar. Não estou brincando, nem sendo irônico, escreve mesmo, coloque no papel o que pensa e sente. Faça uma lista de todos os erros cometidos e outra lista de como eles deveriam se comportar, de como é o jeito certo. Coloque no título da carta: “Gabarito do certo e errado”. Coloque a carta em um envelope. Vá até o correio e envie a carta para si mesmo. Assim que chegar, leia e viva de acordo com o seu gabarito e permita que o outro vida de acordo com o gabarito dele. E não faça isso pelos outros, por benevolência, tolerância ou respeito. Não! Faça por si mesmo, pelo seu próprio bem. Viver censurando e corrigindo a vida dos outros só serve para você perder sua vida.

Como conviver bem com pessoas assim e assado?

Como conviver bem com pessoas assim e assado?

Como conviver bem com pessoas que não falam o que pensam? Permitindo que sejam pessoas que não falam o que pensam. Como conviver bem com pessoas que mentem? Permitindo que sejam pessoas mentirosos. Como conviver bem com pessoas que me odeiam? Permitindo que sejam pessoas que te odiam. Como conviver bem com pessoas burras? Permitindo que sejam pessoas burras. Como conviver bem com pessoas arrogantes? Permitindo que sejam pessoas arrogantes. Como conviver bem com pessoas racistas? Permitindo que sejam pessoas racistas. Como conviver bem com pessoas de direita e esquerda? Permitindo que sejam pessoas de direita e esquerda. Como conviver bem com pessoas assim e assado? Permitindo que sejam pessoas assim e assado.

Como sei se estou no outroísmo?

Como sei se estou no outroísmo?

Observe sua intenção em relação ao outro. Se sua intenção é controlar o outro, você está vivendo outroísta.

Como ser autoísta e não impor minha vontade?

Como ser autoísta e não impor minha vontade?

Cuidado para não confundir imposição com interferência. A realização do seu desejo irá interferir na realidade do outro, com certeza e inevitavelmente, pois tudo que você faz interfere na realidade do outro. Mas tudo que você não faz também interfere na realidade do outro. Impor seu desejo ao outro é obrigar o outro a desejar igual você.

De que adianta me abrir para o diálogo se o outro contínua atacando?

De que adianta me abrir para o diálogo se o outro contínua atacando?

Se você está fazendo essa pergunta, é porque você nunca realmente se abriu para o diálogo, caso contrário, você saberia na prática a resposta para essa pergunta e não estaria me perguntando. Uma pessoa que se abre verdadeiramente para o diálogo, não tem dúvidas de que o diálogo é a única porta para boa convivência e que é uma porta que deve permanecer sempre aberta, mesmo que apenas um dos lados tenha interesse em atravessá-la. Dito isso, o benefício de se abrir para o diálogo é o mesmo de abrir os olhos quando você está dirigindo seu carro no trânsito. Quando você fecha os olhos, você não enxerga os outros e por isso tromba com os outros. Quando você abre os olhos, você começa a enxergar os outros e para de trombar com eles. Analogamente, quando você se fecha para o diálogo, você também não enxerga os outros e por isso tromba com eles. Quando se abre para o diálogo, você começa a enxergar os outros e para de trombar com eles.

É normal a forma que vivemos?

É normal a forma que vivemos?

Não gosto de falar sobre o que não é óbvio, mas nesse caso vale o desconforto. Certa vez, fizeram a seguinte pergunta a um extraterrestre que estava se manifestando através de um médium: “Como será quando os extraterrestres chegarem?”. O extraterrestre respondeu: “Vocês se sentirão envergonhados!”. Uma pessoa no grupo perguntou: “Envergonhados com o que? Com vocês? Com a forma como vocês vivem?”. O extraterrestre respondeu: “Não, vocês ficarão envergonhados com vocês mesmos, com a forma como vocês vivem!”. Poucos entenderam a resposta do extraterrestre. Até porque era preciso já estar envergonhado para entendê-la. Ora, só mesmo com a consciência muito adormecida para não sentir vergonha da forma como vivemos. Hipocrisia, recalque, violência, vingança, luta pelo poder. E seguimos sem remorso! Como? Que nível de inconsciência é esse que acha isso normal?

Eu falo, mas o outro não me escuta. Onde estou errando?

Eu falo, mas o outro não me escuta. Onde estou errando?

Um cientista arrancou uma das patas de uma aranha e disse: “Anda aranha!”. A aranha andou. O cientista pegou seu bloco de notas e escreveu: “Aranha com sete patas anda”. Depois ele arrancou mais uma pata da aranha e repetiu: “Anda aranha!”. A aranha andou. O cientista pegou seu bloco de notas e escreveu: “Aranha com seis patas anda”. E assim o cientista foi arrancando uma a uma as patas da aranha. Até a aranha ficar com uma pata só. “Anda aranha!”, disse o cientista. A aranha começou a se arrastar e andou. O cientista pegou seu bloco de notas e escreveu: “Aranha com uma pata anda”. Por fim, o cientista arrancou a última pata da aranha. “Anda aranha!”, disse o cientista. E nada da aranha andar. “Anda aranha!”, ele repetiu. A aranha não andou. Ele começou a gritar: “Aaaanda araaaanha! Aaaanda araaaanha!”. A aranha não andou nem um milímetro. O cientista pegou seu bloco de notas e escreveu: “Aranha sem patas é surda”.

Comunicação é meio. A finalidade da comunicação depende de você. Você pode usar a comunicação para comunicar (expor) ou para controlar (impor). Assim como o cientista da piada está equivocado em relação à aranha, você vive equivocado em relação ao outro. O outro não é surdo, o outro é outro, diferente de você e livre para optar pelo melhor para si. Seu erro é acreditar que o outro te deve obediência.

Impor limites pode ser necessário e positivo?

Impor limites pode ser necessário e positivo?

A melhor forma de convivência é aquela produzida através do diálogo e do acordo. Traçar limites na convivência é fundamental para que um não ultrapasse o limite do outro, mas um limite não precisa ser imposto com punição, pode ser conversado e combinado. O combinado não é caro, nem imposto.

Inocentar o outro é jogo do controle?

Inocentar o outro é jogo do controle?

Você protege as cagadas de quem ama. Faz vista grossa. Você finge que a pessoa amada não está fazendo a merda que está fazendo. E pior! Você acredita que faz isso por amor ao outro. Só que não! Você faz isso para controlar o amor do outro, para inibir a possibilidade do outro lhe odiar. Na posição de mãe, por exemplo, você finge que seu filho não está fazendo merda para que seu filho lhe ame. Na posição de filho, você finge que seus pais não estão fazendo merda pelo mesmo motivo. Mas quando alguém está fazendo merda, fazendo merda está. Óbvio! Simples assim! Pessoas amadas são pessoas iguais você e fazem merda igual você. Todas as pessoas acordam de manhã, vão até o banheiro e fazem merda, nem por isso deixamos de amá-las. Uma pessoa não é a merda que faz, apenas faz merda.

Matar animais para comer é outroísmo impositivo?

Matar animais para comer é outroísmo impositivo?

Não sei. Para ter certeza disso seria preciso perguntar para os animais. Suponho que sim, pois aparentemente os animais não querem morrer.

Olha só fulano! Pode isso?

Olha só fulano! Pode isso?

Em qual supermercado você compra tempo para ficar cuidando da vida duzotro? E daí que o outro isso, aquilo, murilo, grilo, esquilo e crocodilo? O que você tem a ver com isso? Está procurando chifre em cabeça de cavalo para quê? Quem procura acha! E quando o outro te dá um coice bem dado, para você deixar de ser enxerido, você começa com a ladainha: “eu faleeeeei que fulano era um cavalo!”. Está com tempo sobrando? Vai cortar grama com alicate de unha. Vai enxugar iceberg. Vai pentear o King Kong. Vai empilhar dominó no terremoto. Vai contar pingo de chuva. Vai fazer qualquer coisa ao invés de ficar plantando vento para colher tempestade. Às vezes, para boa convivência, nem precisa de muito autoconhecimento, um pouco de vergonha na cara já resolve. Não tem vergonha na cara! Vende no mesmo supermercado que você compra tempo para ficar cuidando da vida duzotro.

Outroísmo impositivo é inevitável?

Outroísmo impositivo é inevitável?

Sim, é inevitável como pisar no pé de alguém ao atravessar uma multidão. Mas é minimizável. Se você andar com calma e prestar bastante atenção onde pisa, você irá diminuir bastante a quantidade de vezes que irá pisar no pé dos outros. Analogamente, quando você está consciente do outroísmo impositivo, você também diminui bastante a quantidade de vezes que você executa a imposição.

Por que é tão difícil se colocar no lugar do outro?

Por que é tão difícil se colocar no lugar do outro?

Se colocar no lugar do outro é executar a empatia. A empatia é uma prática. Quanto mais você pratica empatia, mais fácil fica executar. Então, se você não consegue se colocar no lugar do outro, e deseja conseguir, você deve se perguntar o que te impede de praticar a empatia, o que te impede de se colocar no lugar do do outro. Daí, você irá descobrir. Pode ser, por exemplo, que você evita a empatia para fugir da sua parcela de culpa e colocar toda a culpa no outro. Pode ser uma forma cultivar a uniformidade. Pode ser para continuar no jogo do controle. Pode ser que não está preparado para ouvir a verdade do outro. Etc. Descobrindo, você começará a ter empatia.

Por que tem tantas brigas nas redes sociais?

Por que tem tantas brigas nas redes sociais?

Um náufrago estava caminhando por uma ilha deserta quando viu uma pessoa se afogando no mar. O náufrago se jogou na água, salvou a pessoa e a levou para ilha. Chegando na ilha, descobriu que a pessoa era a Sharon Stone. Muito agradecida, Sharon Stone disse ao náufrago para pedir o que quisesse em retribuição ao salvamento. O náufrago não hesitou e disse: “Quero fazer sexo com você!”. Durante dois mês eles transaram todos os dias e o náufrago ficou muito feliz. No terceiro mês o náufrago começou a ficar deprimido. Sharon Stone percebeu e perguntou se podia fazer algo mais para deixá-lo feliz. Sem hesitar, o náufrago pegou um velho baú de roupas e vestiu a Sharon Stone de paletó e gravata. Depois disse: “Faz de conta que essa parte da praia é a empresa em que eu trabalhava e você é meu colega de trabalho. Eu vou ficar parado aqui como se estivesse no elevador lotado. Você chega e me cumprimenta”. Sharon Stone achou estranho, mas concordou. Ela entrou no elevador fictício vestida de homem e disse: “Olá, tudo bem com você?”. E o náufrago respondeu entusiasmado: “Raaaaapaaaaz, você não vai acreditar! Tô comendo a Sharon Stone!”.

Entendeu o fundamento da treta? Por isso você jamais recebeu e jamais receberá uma mensagem no privativo dizendo que tem pinto pequeno ou que é gorda balofa. Glorificação e difamação só funcionam quando tem platéia. Quem joga flores ou tomate é o público. Difamação privada vai direto para privada. Não tem poder nenhum. Difamação só funciona quando é feita na rede globo em horário nobre. Difamação privada não é difamação, é conversa. Você envia uma mensagem descrevendo o desafeto com a intenção de conversar e resolvê-lo, não de piorá-lo.

Tentar convencer o outro a dialogar é ser impositivo?

Tentar convencer o outro a dialogar é ser impositivo?

Depende do que você chama de “convencer”. A tortura, por exemplo, é uma estratégia de convencimento. O torturador violenta o torturado com o propósito de convencê-lo a dialogar sobre o que ele não quer. No caso de violência física, como a tortura, é explícito que o convencimento é uma imposição. Mas você pode usar a violência psicológica também. Quando você fica aporrinhando o outro dia e noite para convencê-lo a conversar, também é tortura e imposição. Quando você ameaça o outro para convencê-lo a conversar, também é imposição. Enfim, sempre que você força o outro a conversar, é imposição. Isso não significa que explicar para o outro os benefícios do diálogo seja imposição. Explicar ao outro os benefícios de uma opção é dar ao outro a oportunidade de mudar de opção. Contudo, no caso do diálogo, o outro precisa estar disposto a ouvir sua explicação sobre os benefícios do diálogo, caso não esteja, se você forçá-lo a ouvir, estará impondo e irá gerar má convivência.

Todo tipo de comparação é outroísmo?

Todo tipo de comparação é outroísmo?

Comparação em si não é outroísmo. A comparação em si é um processo mental natural e inevitável. O processo mental da comparação acontece para que você possa diferenciar características dos objetos observados. Por exemplo, sem a comparação e diferenciação entre um sabonete e um cactus, você acabaria tendo problemas na hora de tomar banho. O outroísmo acontece quando você se compara e se obriga a ser igual ao objeto ao qual está se comparando, ou seja, quando se obriga a ser igual ao outro, ou quando você obriga o outro a ser igual a você.

Um submisso pode se tornar impositivo?

Um submisso pode se tornar impositivo?

Quando fica óbvio que tentar controlar a opinião dos outros sobre você só serve para te fazer escravo desse ofício, você desiste. O outro pode te criticar, te caluniar, te difamar, foda-se! Você não se proíbe mais de viver do seu jeito só para receber emoji de coração e curtida no facebook. Você desiste de parecer e se permite ser. Você caga para opinião dos caga-regras. Só que os caga-regras começam a te criticar como nunca. É muita merda no seu ventilador. Muita pedra no seu telhado de vidro. A dor fica insuportável. Então, como a melhor defesa é o ataque, ao invés de você continuar cagando PARA os outros, você começa a cagar NOS outros. Você ataca merda para não ser atacado. Você voltou para mesma escravidão da qual havia saído: tentar controlar a opinião dos outros. E pior! Você se transformou no que odiava: um caga-regra.

Viver autoísta gasta tanta energia como viver outroísta, então, qual é a vantagem?

Viver autoísta gasta tanta energia como viver outroísta, então, qual é a vantagem?

Viver é gastar energia. Você gasta energia tanto para viver outroísta como para viver autoísta. A diferença é que no viver outroísta você vive mal e no viver autoísta você vive bem.

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