Porão da negação

07/02/2019 by in category Dilema do objetivo, Textos, Três passos tagged as , , with 0 and 0

Nunca tive um mísero músculo na barriga. Meus músculos abdominais parecem não ter esse dom. Por isso sinto inveja de quem tem barriga de tanquinho. Só que inveja não pode! A moral e os bons costumes não permitem inveja. E o que faço com essa inveja aqui? Tranca no porão! Negar a inveja é lidar mal com a inveja. Não tem nada de errado com a inveja. O que atrapalha é não saber usar a inveja como informação de autoconhecimento. Inveja é admiração. Só isso. Na verdade, eu não tenho inveja de quem tem barriga de tanquinho, eu admiro corpo esbelto. Mas se levo a inveja para o porão, nunca descubro isso. Outro dia, um amigo gordinho apareceu sarado. Bati o olho e fiquei com inveja. Só que ao invés de me chicotear e levar a inveja para o porão, admiti. Saboreei a inveja como se estivesse chupando uma bala. Quanto mais ficava consciente da inveja, mais ela se transformava em admiração. Negar o que estamos sentindo não elimina o que estamos sentindo. O primeiro passo para lidar bem com o que estamos sentindo é admitir o que estamos sentindo. Negamos a inveja, a cobiça, a vergonha, o medo, a preguiça, a crueldade, etc, porque não entendemos que são informações de autoconhecimento. Quando entendemos isso, não precisamos negar nada. Admitimos tudo. Jogamos luz (lucidez) no sentimento. Fim do mal viver.

© 2023 • 1FICINA • Marcelo Ferrari